5.Revolução

O órgão de imprensa oficial do movimento Nacional-Sindicalista era o jornal Revolução. Este tinha tido antecessores, experiências breves que, no entanto, serviram para preparar o terreno. António Lepierre Tinoco esteve presente tanto no núcleo duro do Revolução (o auto-intitulado «soviete de Lisboa»), quanto nos ensaios anteriores, nomeadamente o Acção Nacional. Tanto um, como os outros, foram fruto de um pequeno grupo de amigos e estudantes de Letras e do Direito, oriundos quase todos do Integralismo Lusitano, considerando-se pertencentes a uma «geração fascista», grupo do qual se destacam António Pedro, Dutra Faria, Luís Forjaz Trigueiros e Pereira de Matos. António Pedro, seu chefe de redacção, foi o mais entusiasta de todos, desde o primeiro número (Fevereiro de 1932) até, pelo menos, à entrada em cena de Rolão Preto, quando este assumiu a direcção do jornal. António Lepierre Tinoco por ali andava, pensava e respirava. Começa por redigir a folha ocasional "A Página do Operário" e a 4 de Fevereiro de 1933 passa a editor de "A Revolução dos Trabalhadores", suplemento semanal do jornal. Vale a pena relembrar aqui a passagem:

«O Revolução criou desde o início uma «Página do Operário» que, após a fundação do movimento, passou a suplemento destacável, distribuído gratuitamente, A Revolução dos Trabalhadores, dirigido por António Tinoco, o mais «socialista nacional» dos seus fundadores. Nele se concentravam as notícias sobre o mundo do trabalho, os comunicados dos secretariados locais dirigidos aos trabalhadores e se seguiam, sobre a forma de denúncias políticas, ideológicas e, por vezes, de tipo policial, as actividades dos partidos de esquerda com influência no movimento sindical, particularmente os comunistas e os anarco-sindicalistas.» (António Costa Pinto, Os Camisas Azuis. Ideologia, Elites e Movimentos Fascistas em Portugal (1914-1945), Editorial Presença, 1994)

Após umas semanas na Hemeroteca de Lisboa consegui reunir os textos de António Lepierre Tinoco nas folhas do Revolução. Aqui ficam. Como já é hábito, tudo o que estiver em vermelho é da minha autoria.




Revolução, 11 de Janeiro de 1933

NACIONAL-SINDICALISMO

O Nacional-Sindicalismo singra e caminha por entre a balbúrdia crescente no xadrez da política nacional.
Temos andado depressa e àquela Revolução das Mentalidades necessária e operada já, em grande parte, na lentidão, digamos rápida, de alguns meses – sucede-se, como é natural, o enquadramento dos valores.
Esse enquadramento é feito nos quadros organizados a pouco e pouco em todo o Portugal pela vontade forte e tenaz dos portugueses que para o serem não abdicam da sua virtude e da sua qualidade de Inovadores e de Revolucionários. É que nós não somos uma clientela de ambiciosos.
É que o Movimento Nacional-Sindicalista Português, não é o fruto de um trabalho isolado de grupo. Não. O Movimento é obra de todos os Portugueses que sabem ser Homens de hoje e todos concorreram para o que há feito como são indispensáveis para o que há a fazer.
A Técnica do nosso movimento, disse-o já na «Revolução» quem escreve estas palavras, tem sido e será sempre fazer primeiro Revolução de mentalidades, errando, expondo e divulgando a Doutrina; colocar e manter depois pela disciplina no seu posto respectivo, os que obedecem e comandam.
Será assim feita a Construção Nova.
Não estamos no fim da luta; estamos em plena batalha.
A Técnica seguida, imposta pela razão e pela dignidade, tem sido e cremos que será o bom caminho. É consolador para os que tudo sacrificam, batendo-se bem, ver pelo país fora a concepção moderna da Política que Novos e Velhos de idade adquiriram já e vão adquirindo. Está vencida – podemos afirmá-lo – uma etapa difícil.
Afastando com desprezo as intrigas e as calúnias de quem pretende dividir-nos, amesquinhar-nos, esfriar entusiasmos – trabalhemos sem cessar completando a nossa Organização Nacional.
Fizemos a Revolução das Idéias.
Dia a dia, em Lisboa, nas cidades, vilas e aldeias de Portugal, o Nacional Sindicalismo se impõe e a Nação vai preparando o seu Resgate completo.

ANTÓNIO LEPIERRE TINOCO




Revolução, 26 de Janeiro de 1933

A NÓS!

Revolução, jornal diário dos Trabalhadores e para todos os Trabalhadores, é órgão do Nacional-Sindicalismo e como tal, toda a sua acção e atitudes visam a definição e expansão da doutrina de que é porta-voz.
Temos aqui exposto a Doutrina como ela é e como queremos que ela seja. Definimo-la com firmeza e precisão suficientes. Se não descemos à minúcia nas exposições feitas, foi porque entendemos não o dever fazer; o não descermos à minúcia não significa que a Doutrina esteja flutuante ou mal definida. Só no acto da Realização se podem precisar certos pormenores e na altura devida eles serão precisados.
Não temos a pretensão de ter inventado uma doutrina. Apresentamos apenas os princípios basilares de uma moderna e salvadora organização familiar, administrativa, social e económica: princípios que são de sempre uns, que são novos outros.
Assim o exige a Verdade natural e as condições da vida contemporânea.
A nossa virtude nos domínios do pensamento, tem sido sobretudo arejar certas ideias fundamentais da Orgânica a construir, concretizar essas ideias, afirmar com desassombro o seu conceito moderno, definir os processos da sua realização imediata, demonstrar à evidência a necessidade urgente da sua aplicação para se conseguir enfim o equilíbrio na vida nacional e a justiça social de que necessitam os portugueses.
Expômos com clareza aquilo que pensamos, definimos a Doutrina e os métodos de Acção com consciência e audácia viril.
Eis, em resumo, a novidade do nosso jornal e do nosso Movimento.
A acção do jornal tem sido brilhante e profícua – com orgulho legítimo o afirmamos.
já em todos os meios sociais. Nos resultados obtidos e na rigidez infléxivel de princípios exigida pela mais elementar noção de dignidade, temos encontrado forças morais suficientes para continuar, para lutar mais, para lutar sempre. E só nós sabemos as contrariedades e as dificuldades de toda a ordem que temos encontrado no caminho árduo, trilhado até hoje sem uma quebra de ânimo.
lutado com dignidade, forçados, embora sem quebra dessa dignidade, a adequar as nossas palavras, os nossos escritos e a nossa acção ao fim que queremos atingir – o agrupamento de soldados disciplinados e conscientes que trabalhem pela organização da Sociedade Nova e do Estado Moderno.
O movimento Nacional-Sindicalista, saído do esforço dispendido através da «Revolução», é a expressão concreta do sentido nacional e revolucionário que agita o mundo inteiro. Não estamos sozinhos. Temos connosco o espírito novo da velha Europa.
Chamámos para esta batalha decisiva – de morte pelo comunismo ou de vida pelo nacionalismo – todos os sinceros e todos os dispostos ao sacrifício, vindos eles de onde vierem. Chamámos e chamamos. Muitos acorreram já ao nosso chamamento; muitos mais virão.
Não somos políticos nem somos um movimento político na vulgar acepção do termo. Acima da política que nos não interessa com esse significado, guiados pela Ideia, atentos às realidades e defrontando-nos energicamente com eles – nós trabalhamos, sacrificamo-nos, truiunfamos, triunfaremos e connosco a Justiça.
É consolador o trabalho, é belo o sacrifício, quando o triunfo é certo.
Saudamos, pois, os que se batem deste lado da barricada, tanto contra a democracia burguesa e capitalista como contra o capitalismo. Esta saudação queremos que seja tambem um apelo aos que nos combatem. Que essa saudação se exprima apenas assim: A Nós!

ANTÓNIO TINOCO




Revolução, 28 de Janeiro de 1933

["Página do Operário", quando era apenas uma folha, antes de ser suplemento semanal]

NACIONAL-SINDICALISMO
PARA ALÉM…

Vivemos numa hora de intenso revolucionarismo. Em todo o mundo se constata o mesmo fenómeno. Ruiram estrondosamente instituições que fizeram – e mal – o seu tempo. Estamos em presença da falência de uma civilização, que foi e que se diz hoje ainda, superior.
Na desorientação crescente em toda a parte, difícil é, para alguns, definir uma atitude mental séria, marcar uma posição segura de combate e de vida.
Muitos recolheram-se a um indiferentismo pacato que nada soluciona, antes apressa uma derrocada talvez irremediável. Outros, numa inconsciência pasmosa, continuam agarrados a velhos mitos e a mentiras, apegados mais a interesses criados que a ideias dignas e humanas. Esses são os que estão nas fileiras das democracias, sejam elas democracias burguesas, capitalistas, democracias socialistas ou democracias tipo heterogéneo, misturada cómica de princípios.
Se nesta confusão intelectual das elites se perdem valores, se avoluma o número de falhados, também e sobretudo é graças a ela que se exploram as massas trabalhadoras – desorganizadas e mantidas na desorganização pelas democracias e em perigo de nova escravatura pelo comunismo.
Agitam-se reinvindicações ao serviço de interesses baixos e os meneurs quebram todo o entusiasmo e revolucionarismo quando as benesses os contentam.
Reconhecendo e proclamando a falência total de instituições que regem ainda quase todo o mundo; reconhecendo e proclamando a falência de uma civilização que foi desvirtuada – Nós, proclamamos também e lutamos com energia por outras instituições mais perfeitas e justas e por outra civilização, que, aproveitando o que de bom a do presente nos lega, crie mais e melhor.
O comunismo é um facto. De que vale pretender – como os burgueses – negar-lhe a existência ou refugiar-se em casa, confiados na força da polícia?
Negar a existência das ideias comunistas? Para quê? Não. Nós não negamos essa existência que é real. Não a negamos, mas combatemos o comunismo, apresentando e defendendo conceitos que cientificamente estão para além dos de Marx ou Lenine. Combatemos o comunismo pensando, combatemos o comunismo agindo e batendo-nos em toda a parte.
Uma revolução social profunda como a que fez o comunismo na Rússia e pretende fazer em todo o mundo – não se impede ficando na defesa. Evita-se essa revolução social profunda de directriz determinada – criando e fazendo outra revolução social profunda de directriz diversa, mas tão ou mais revolucionária, que aquela.
Nós, integrados na Revolução Nacionalista de que o mundo inteiro vai sendo palco – estamos contra a revolução comunista, estamos para além dela.
A Nós!

ANTÓNIO LEPIERRE TINOCO




Revolução, 2 de Fevereiro de 1933

OS CAMISAS AZUIS

Publica-se na Póvoa do Varzim um semanário chamado «O 28 de Maio», como muitos outros se publicam por esse país fora. Mão amiga trouxe-nos o número de 21 de Janeiro, onde deparámos com um artigo «Os Camisas Azuis», assinado pelo sr. Miquelano. Como o género de objecções feitas ao Nacional-Sindicalismo pelo sr. Miquelano se está vulgarizando em certa imprensa e como é raro chegarem até nós os exemplares dessa imprensa que se refrem à «Revolução» ou ao Movimento – resolvemos responder, muito boamente, a «O 28 de Maio», desculpando desde já os desacertos do sr. Miquelano, atendendo à sua falta de conhecimentos.
O artigo em questão, começa por elogios ao dr. Rolão Preto e à «Revolução». Dispensamo-nos de comentar essas justas palavras, esclarecendo apenas que o dr. Rolão Preto não é um «intrépido paladino da democracia orgânica», porque isso da democracia orgânica é uma parvoíce. Se há orgânica não há democracia. Só o Nacionalismo é orgânico. A democracia preconiza o governo do povo pelo povo; exprime-se assim um conceito individualista, totalmente oposto ao conceito orgânico do Nacionalismo. O Nacionalismo preconiza o governo da Nação organizada, enquadrados os seus membros nos respectivos grupos sociais e económicos; o Nacionalismo preconiza, em resumo, uma Orgânica Nacional. Chamar portanto «democracia nacionalista» a um sistema que pretende assentar em bases nacionalistas, é asneira; a menos que, o sr. Miquelano [ilegível] queira discutir a questão nesse campo.
[ilegível] articulista perentoriamente a seguir, que «fora do grupo selecto e forte que conseguiu reunir (o dr. Rolão Preto) à volta de si, ninguém compreende bem o programa, as reformas ou as inovações em vista».
É uma descoberta interessante do sr. Miguelano. De toda a parte nos chegam novas adesões; toda a gente, camaradas, simpatizantes e adversários, nos compreendem, nos auxiliam, nos temem ou nos combatem. O sr. Miquelano é que não percebeu e zás, generaliza logo!
O pior é que o sr. Miquelano não se fica por aqui e trata de indagar se o nosso sindicalismo é fascista, se é revolucionário, se está de acordo com a constituição de que se fala e lá vêm outra vez considerações, novas descobertas como seja a de contradições na Revolução.
Olhe sr. Miguelano: o nosso sindicalismo não é fascista, nem é revolucionário, nem navega nas águas do colaboracionismo a que o sr. alude. O primeiro é um sindicalismo revolucionário que não aceitamos; o segundo é um sindicalismo improdutivo, gerador da luta de classes (como o sr. diz) que igualmente não aceitamos; o terceiro é um sindicalismo muito platónico, de nulos resultados práticos que nos não interessa portanto. O nosso sindicalismo é orgânico, nacional e obrigatório para todos os portugueses. Isso já se disse e redisse na Revolução.
Olhe, oiça ainda, sr. Miquelano: nós não queremos o predomínio de classes e como não admitimos hoje o predomínio do capital, também não admitiríamos amanhã o predomínio da mão-de-obra. O que nós reconhecemos é apenas aos trabalhadores o direito à vida social; esse direito pertence exclusivamente aos homens que trabalham, seja na gerência, na técnica ou na mão-de-obra, da agricultura, da indústria, do comércio, das profissões liberais, do funcionalismo, etc.
Oiça mais ainda, sr. Miquelano: nós somos um movimento independente e não estamos subordinados a esta ou aquela bandeira; lutamos apenas em redor da nossa.
Continuando a responder, temos a dizer que aqui se não usam «luxos de retórica e banais afirmações» e que se têm apontado os meios com que se deve resolver o que o articulista chama a questão operária: sindicalismo no Trabalho; corporativismo e disciplina na Economia; seguros sociais à velhice, à invalidez, à doença, à maternidade, à criança, aos lares atirados para a miséria pela morte do chefe de família; salários mínimos familiares; casas operárias; educação moral e mental. Em resumo, uma perfeita organização social de todos e para todos, feita através das obras sociais, das corporações e dos sindicatos. Tudo isto se tem aqui repisado, sr. Miquelano. O sr. é que não lê e não percebe porque não quer ou não pode.
Os amigos da tal Ordem falsa, citada pelo sr. Miquelano como [ilegível] e que seja já tarde.
Suspeitem, se quiserem, que estamos a atraiçoar a tal ideologia da tal «democracia orgânica». É escusado desconfiarem e dizerem-no em confidência. Nós gostamos de atitudes claras e daqui lhes declaramos publicamente, que estamos contra essa misturada de princípios e de palavras.
Suspeitem ainda, que a nossa «ânsia de justiça social e de solução a dar ao problema de pauperismo, é, em última análise, cristianismo azedado, demofilia falsificada, Leão XIII e Pio XI associando-se a Karl Marx».
Olhe, sr. Miquelano, não se meta a escrevinhar sobre assuntos que não conhece nem pela rama. Essas da «última análise», do «cristianismo azedado», da «demofilia falsificada», de «Leão XIII e Pio XI associando-se a Karl Marx», são de rebentar a rir!
Já na «Revolução» se disse (o sr. Miquelano tem horror à leitura) que o Nacional-Sindicalismo é um Movimento de Doutrina e de Realização e que a sua doutrina contém princípios que são de sempre porque são a expressão da verdade natural e contém princípios que são novos, impostos pelas modernas condições de vida.
Que admira em face disto, que Leão XIII e Marx nos tenham ensinado muita coisa! E não se horrorize o sr. Miquelano com mais esta afirmação para terminar: – não foram só esses que nos legaram ensinamentos; foram também muitos outros que o senhor nem de nome deve conhecer.

ANTÓNIO LEPIERRE TINOCO




Revolução dos Trabalhadores, n.º 1, separata n.º 279 do jornal Revolução, 4 de Fevereiro de 1933

[Momento em que a "Página do Operário" passa a "Revolução dos Trabalhadores", suplemento semanal]



NACIONAL-SINDICALISMO
AOS TRABALHADORES
DOUTRINA-REALIZAÇÃO-ACÇÃO

Ao iniciar-se hoje a publicação da «Revolução dos Trabalhadores» – folha semanal de Trabalhadores e para todos os Trabalhadores –, queremos afirmar, com desassombro, a nossa orientação doutrinária e queremos definir, com firmeza, a nossa posição de combte. Queremos marcar a atitude dos Novos: atitude digna, clara e violenta, que maior valor tem nesta época de miséria moral, de cobardia e de comodismo; nesta hora suprema em que uma organização social-económica e uma civilização não escondem já sinais evidentes da falência total.


DOUTRINA

A Liberal Democracia

O liberalismo económico e a democracia política – um e outra inseparáveis – juntamente com a desagragação social, sua consequência lógica, atiraram com o mundo inteiro para o caos.
Não interessa, neste momento, uma platónica investigação histórica. Como Trabalhadores que somos, limitamo-nos a constatar o facto, sem temor de ser desmentidos. Lutamos, portanto, pela aplicação dos remédios verdadeiros, radicais contra o mal-estar e resgatadores de uma opressão real que sofremos.
A PERCA DO SENSO MORAL FAMILIAR, que dia a dia mais se acentua e regista, favorecida por leis anti-naturais como o divórcio – conduz a comunidade a costumes atentatórios da dignidade da mulher, da formação dos filhos e da manutenção e revigoramento das energias vitais de uma raça.
NOS SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS, O MAU FUNCIONAMENTO dos trabalhos burocráticos, o FAVOR, a INCOMPETÊNCIA – são regra geral nas democracias, fruto da organização partidária das suas forças.
A NULA OU MÁ ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO E DOS SEGUROS SOCIAIS PARA TODOS, faz com que os Trabalhadores arrastem uma vida imprópria de homens, recebendo salários baixos e insuficientes, sujeitos a todas as contingências da miséria da fome.
ANARQUIA COMPLETA DA ECONOMIA, regida hoje pela livre produção e livre concorrência desenfreada, cria o desequilíbrio na vida pessoal e colectiva, levando, inevitavelmente, a crises mais ou menos periódicas e mais ou menos agudas.
DA VERGONHA PARLAMENTAR nem vale a pena falar.
É real, é fatal, a derrocada da organização familiar, administrativa, social e económica da democracia, ou seja a derrocada da organização burguesa e capitalista.
Não há pois que conservar; há que renovar e revolucionar.
É pelo que fica dito, em resumo, que somos profundamente anti-liberai, anti-democráticos, anti-burgueses, anti-capitalistas e anti-conservadores.
A democracia faliu e não menos faliram os socialismos, apalhaçados no jogo dos partidos políticos. O socialismo, em todo o mundo, não é hoje mais que um partido político tendente a desaparecer, como tal, não interessando aqueles que lutam pela transformação social rápida.

Comunismo

Num desejo violento de revolução, ergue-se sim o comunismo, mas o comunismo é só uma reacção monstruosa contra o presente e insustentável estado de coisas mundial, pretendendo curar um mal com outro mal idêntico, pelo menos.
O CONCEITO INTERNACIONALISTA de que o comunismo se diz paladino é uma mentira, um sonho de visionários; enquanto os homens forem homens nunca será uma realidade.
O AMOR LIVRE é uma brutalidade que animalisa o homem e a mulher, fere a dignidade e os sentimentos e vem agravar uma situação moral precária já na democracia.
A BUROCRATIZAÇÃO IMENSA exigida pelo Estado-patrão-único, tem em si o germen da desordem administrativa; isto é evidente e nem necessária seria a prova real que a Rússia nos oferece.
A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO à semelhança da realizada na URSS, asfixia toda a defesa e liberdades sindicais. Se, de acordo com a teoria comunista pura, essa organização fosse feita sem a direcção do Estado – poder independente conciliador dos interesses – teríamos a permanente e estéril luta de classes.
O SISTEMA DA PRODUÇÃO A CARGO UNICAMENTE DO ESTADO e dirigida pelos seus componentes – chamem os nomes que lhe quiserem aos organismos colectivos produtores – é, além de uma tirania insuportável de que todos seriam vítimas, a morte do estímulo. Ora o estímulo é indispensável à boa Produção, à marcha de uma sã Economia, ao progresso e à própria vida.
Realizada, entre nós, a Ideia Comunista, teríamos em síntese: utopia internacionalista; desagragação social completa pela morte da família e consequente rebaixamento moral; desordem administrativa; guerra entre irmãos de interesses diferentes ou tirania feroz.
É por tudo isto que somos profundamente anti-comunistas.

Nacional-Sindicalismo

Não basta no entanto criticar, é preciso realizar. Eis porque erguemos em Portugal a bandeira do Nacional-Sindicalismo.
Estudando as doutrinas e os seus efeitos à luz da história e da razão, analisando as condições da vida contemporânea – o NACIONAL-SINDICALISMO chegou a conclusões concretas e seguras.
A sua doutrina assenta em realidades e visa conseguir o Equilíbrio na Vida, a Justiça Social e a Harmonia Nacional.
CONSEGUIR O EQUILÍBRIO NA VIDA, pelo fortalecimento e defesa da família e por uma organização administrativa em que os interesses locais, municipais, regionais, provinciais e nacionais se desenvolvam independente e solidariamente. É a descentralização administrativa.
CONSEGUIR A JUSTIÇA SOCIAL, pela organização do Trabalho nos Sindicatos Nacionais dos Trabalhadores, pela organização da Economia e da Produção nas Corporações Nacionais dos Produtores, pela organização de Obras e Seguros Sociais através destes organismos vivos. Admitimos a Propriedade privada e o Capital privado empregue na Economia Nacional, porque têm uma função social imprescindível, criando estímulo e condições de defesa económica contra qualquer opressão responsável ou irresponsável. O que exigimos é que a Propriedade e o Capital sejam regulamentados, reconhecendo-se-lhe apenas deveres e direitos idênticos aos dos outros elementos da Produção. Note-se que com isto não se nega a hierarquia no Trabalho.
CONSEGUIR A HARMONIA NACIONAL pelo colaboracionismo entre todas as forças nacionais.
À Autoridade do Poder livre e forte, competirá garantir as liberdades e orientar, disciplinando, a vida da Nação. A Nação é, para nós, indiscutível e é constituída por um agregado de grupos morais, profissionais e económicos, especialmente solidários entre si, que se fazem representar na Assembleia Nacional.
É por isto, que o Nacional-Sindicalismo é familiar, descentralizador, sindicalista, corporatista, autoritário, nacionalista e revolucionário.

REALIZAÇÃO

Realizar estes princípios é o nosso objectivo, certos de que pela sua realização, pela construção do Estado Nacional dos Trabalhadores, será dada, enfim, aos Portugueses aquela felicidade a que todos os homens que trabalham têm direito.

ACÇÃO

Para «realizar», é preciso criar as condições indispensáveis à realização, é preciso que a Doutrina seja por todos suficientemente conhecida pela Propaganda, é preciso organizar a força necessária ao combate.
A «Revolução dos Trabalhadores» propõe-se penetrar em todos os meios trabalhadores, considerando trabalhador todo o homem que trabalha à testa do capital ou da propriedade, na técnica, na mão-de-obra, no funcionalismo ou nas profissões liberais.
TRABALHADORES, CAMARADAS: semanalmente faremos neste jornal um apelo especial, chamando todos às nossas fileiras, vindos de onde vierem, desenvolvendo aqui toda a Doutrina do Nacional-Sindicalismo.
Trabalhemos com consciência, com fé e com alma que o triunfo é certo!

ANTÓNIO TINOCO




Revolução, 7 de Fevereiro de 1933

CUSTE O QUE CUSTAR

Alheios à politiquice que pretende envolvê-los, os Novos que fizeram, lançaram e mantêm a dinâmica do Movimento Nacional-Sindicalista, norteiam a sua acção por uma ideia superior de coerência e de dignidade.
Sendo assim, os Novos reivindicam o lugar que lhes é devido na verdadeira hierarquia dos valores portugueses e os Nacionais-Sindicalistas têm o direito de exigir que lhes seja reconhecida por todos, a lealdade do seu combate forte e a firmeza das suas atitudes claras.
Em Portugal, uma pleiade de pensadores e escritores, apresentou, há anos, um certo número de ideias políticas, sociais e económicas, que constituem, no seu conjunto, um legado precioso de ensinamentos às gerações que se lhe seguiram.
Muito aprenderam as gerações novas, com esses ensinamentos. Aproveitando-os bem, completando a sua formação mental, intelectual e combativa, com aquilo que o aspecto do mundo moderno lhes ensinou e ensina – os Nacionalistas Portugueses, de um Nacionalismo doutrinário consciente e de realização totalitária, apresentaram à Nação o Nacional-Sindicalismo, onde cabem todos os Novos de ideias, sejam novos ou velhos de idade.
Rapidamente tomou corpo a Ideia Nacional-Sindicalista e rapidamente o Movimento se expandiu pela Propaganda e se organizou disciplinadamente pela agremiação dos que nada querem, a não ser o triunfo dos trabalhadores, da Nação que trabalha.
O Nacional-Sindicalismo não é uma fantasia, é uma realidade forte. Isto é a grande verdade que podemos afirmar com orgulho, que podemos gritar a todos os portugueses, por mais que custe a ouvir, seja a quem for.
Somos Nacionais-Sindicalistas e sempre Nacionais-Sindicalistas. Acima da questão de regime hereditário ou electivo, que neste momento não interessa – só à nossa tenacidade e à nossa audácia devemos o muito que fizemos já. É nessa audácia e nessa tenacidade, que confiamos, para realizar o muito que é preciso fazer ainda, pelo triunfo total.
A nossa orientação tem a estabilidade necessária, mas tem também a vantagem suprema de se não atrofiar em ideias preconcebidas. É que nós queremos aprender permanentemente – a Vida é um ensinamento permanente – elevando-nos assim à posição a que temos direito, marchando sempre, ascendendo sempre como homens e não nos aquietando como cobardes.
A nossa atitude mental tem-se imposto pela consciência de quem sabe o que quer, como o quer, porque o quer, pela clareza e precisão com que se tem exposto o que se quer.
Vestimos a camisa azul, que para nós é o símbolo do Trabalho. E vestimo-la, para dar unidade no combate às forças nacionais-sindicalistas, para nos disciplinarmos melhor.
Virilmente, assim nos apresentamos, não para subir seja ao que for mas para salvar o que é preciso salvar.
Alheios à política, no sentido que a palavra tem vulgarmente, lutamos, trabalhamos e venceremos custe o que custe.

ANTÓNIO LEPIERRE TINOCO




Revolução dos Trabalhadores, n.º 2, separata n.º 285 do jornal Revolução, 11 de Fevereiro de 1933

NACIONAL-SINDICALISMO
POLÍTICA – TIRANIA

No primeiro número da Revolução dos Trabalhadores definimos sinteticamente a DOUTRINA DO NACIONAL-SINDICALISMO; afirmámos, ainda, a vontade firme de REALIZAÇÃO, o querer forte e violento de ACÇÃO, que animam o Movimento.
Iniciámos, assim, neste jornal, a tarefa de Propaganda da Ideia, tarefa que nos impusémos com o objectivo de facilitar e acelerar a Organização das forças de Trabalhadores Nacionais-Sindicalistas. Esclareceremos, hoje, alguns pontos mais, para que todos saibam o que queremos, para onde vamos, para onde conduzimos os Trabalhadores que chamamos às fileiras de um Movimento novo, de novos e para novos.

POLÍTICA

«O Nacional-Sindicalismo» não é um partido ou um movimento político, no sentido vulgar deste termo tão abandalhado. Não lhe interessa a politiquice parlamentar ou a politiquice das combinatas mais ou menos confusas e a que, geralmente, sucede uma instalação cómoda no Poder, para dele usufruir benesses e proventos.
O NACIONAL-SINDICALISMO é, repetimo-lo, um Movimento de Trabalhadores; como tal, visa a construção do mundo trabalhador português, assente no equilíbrio justo e harmónico na vida dos homens, dos grupos e da Nação.
Indiferentes, pois, às ambições e às vaidades da babilónia do mundo burguês onde ninguém se entende, marchamos à conquista do futuro com a energia viril dos homens que trabalham, coma fé consciente de novos que tudo sacrificam ao triunf insofismável das reinvindicações modernas, com a certeza matemática da vitória.
O NACIONAL-SINDICALISMO luta pela solução audaz do problema social e do problema económico, interdependentes e estreitamente ligados entre si, solução essa que só a Organização de todas as profissões e forças produtoras conseguirá.
A nossa política é essa.
E isto porque o NACIONAL-SINDICALISMO afirma que a Política deve ser o conjunto de normas reguladoras da vida social económica e a própria efectivação dessas normas; afirma, também, que no dia em que as normas reguladoras forem estabelecidas, como estabelecidos forem os meios necessários à sua efectivação, se terá erguido o edifício político de amanhã.
É desta maneira que o Nacional-Sindicalismo encara a Política. É desta forma que NÃO SOMOS NEM QUEREMOS SER POLÍTICOS, a não ser no sentido alevantado que atrás deixámos expresso.

TIRANIA

Os ignorantes e os ineptos acusam o Nacional-Sindicalismo de caminhar para a estatolatria, de preparar portanto uma tirania insuportável. É falsa essa acusação!
O NACIONAL-SINDICALISMO quer, ao contrário, que se organizem os grupos sociais e económicos, abrangendo todos os Portugueses, para sua defesa.
O NACIONAL-SINDICALISMO quer que esses grupos organizados, que devem constituir a Nação, sejam integrados no plano geral do Estado, para que o Estado seja realmente a expressão jurídicada Nação, confundindo-se com ela.
Por outras palavras: o NACIONAL-SINDICALISMO quer que os grupos e até os próprios elementos individuais constitutivos desses grupos sejam, digamos, órgãos do Estado.
É esta a explicação daquela frase sintética, adoptada pelo Nacional-Sindicalismo: TUDO DENTRO DO ESTADO, NADA FORA DO ESTADO, NADA CONTRA O ESTADO.
Estatolatria há hoje na democracia burguesa e capitalista, em que o Estado – pessoa colectiva constituída por determinado número de indivíduos – impera sobre a Nação – impera sobre outras pessoas particulares ou colectivas, praticamente desorganizadas.
O NACIONAL-SINDICALISMO está contra essa tirania real e afirma que quem deve governar não é uma casta politicante e burocrática, mas sim a própria Nação Orgânica, através de representantes dessa Orgânica.
O NACIONAL-SINDICALISMO, se está contra a politiquice onde se queimam energias e valores, se é anti-parlamentar – luta por uma representação livre e verdadeira das forças espirituais e produtivas da Nação, numa Assembleia Nacional. Ao parlamento, representação mentirosa de indivíduos, o NACIONAL-SINDICALISMO substituirá o novo parlamento – se lhe quiserem chamar assim – dos sindicatos e das corporações.
O NACIONAL-SINDICALISMO preconiza uma AUTORIDADE forte, orientadora e disciplinadora, LIMITADA pela Nação organizada e pela Assembleia Nacional.
O NACIONAL-SINDICALISMO, além de familiar, descentralizador, sindicalista, corporativista, autoritário, nacionalista – é representativo.
A que vem pois o estafado disco da tirania? Tirania foi toda a fantochada parlamentar. Tirania foi toda a palhaçada tragicómica dos partidos, sob cujo domínio a Nação esteve à merçê de três ou quatro ambiciosos. Tirania sofreram-na os Trabalhadores, varados a tiro nas ruas a ordem irresponsável dos chamados defensores do Povo.
Não garante o NACIONAL-SINDICALISMO, pela sua Doutrina, as liberdades pessoais, familiares, municipais, regionais, sindicais e corporativas?
O NACIONAL-SINDICALISMO é o Grande Movimento dos Trabalhadores Portugueses – contra todas as tiranias sejam de que espécie forem, contra toda a baixa política, seja de que espécie for.
O NACIONAL-SINDICALISMO é a Revolução Social-Económica Portuguesa, em marcha.

ANTÓNIO TINOCO




Revolução, 15 de Fevereiro de 1933

OS CAMISAS AZUIS

Os leitores devem estar lembrados que já aqui, nestas mesmas colunas desta mesma página da «Revolução», se escreveu um artigo com o mesmo título do presente em que se respondia a um qualquer escrito de um sr. Miquelano qualquer publicado num qualquer jornal de província.
Ora o sr. Miquelano quer reclame e vá de nos retorquir com aquela mesma ignorância insconsciente que o caracterizou no seu primeiro artigo. O sr. Miquelano quer reclame, mas nós é que possivelmente, nem sempre estaremos dispostos a satisfazer os desejos de publicidade que o animam a ir escrevendo asnices sobre asnices, num tom muito ridículo – creia que é sr. Miquelano – de pessoa sabedora e bem pensante. E nem sempre estaremos dispostos a isso, porque a «Revolução» é um jornal e não uma folha e tem assuntos de interesse muito maior a debater do que andar a aturar o bom do sr. Miquelano.
Respondendo hoje outra vez, não vamos, evidentemente, descer a reparar, sequer, nos termos com que o sr. Miquelano se nos refere. Só lhe diremos que a sua prosa não irritou ninguém cá em casa; fez-nos sorrir o que é diverso. O sr. Miquelano é um ingénuo; anda todo satisfeito a mostrar aos amigos que até discute com um diário lisboeta de grande tiragem. Que glória sr. Miquelano, heim! O sr. quase que atingiu já a celebridade! Nós é que não percebemos nada disto e o sr. com meia dúzia de linhas escachou-nos de alto a baixo chamando-nos isto e aquilo! Pois está claro!
Lá na sua terra, o sr. Miquelano deve andar a rebolar-se de contente com as suas ideias sobre «colaboracionismo» (notemos que o sr. não deve saber ao certo o significado desta palavra) com a nova constituição e com as encíclicas papais encaixadas lá de tal maneira, que até lhe devem causar insónias e pesadelos.
No seu primeiro artigo, o sr. Miquelano afirmava ali, com toda a energia, que ninguém nos compreendia. Neste segundo artigo já não afirma tanto; é ele, sr. Miquelano, que não percebe. Fora isto, já admite que o nosso sindicalismo não é fascista nem «tende à luta de classes ou ao predomínio tirânico do operariado». Ainda bem que o sr. Miquelano já aproveitou alguma coisa da lição que lhe demos no outro dia, mas ainda tem muito que aprender. Vamos lá à segunda lição, que lhe vamos dar com uma paciência verdadeiramente cristã.

***

Pergunta o sr. Miquelano: «de que forma e em que medida quer a escola Rolão Preto que na Ordem Nova sejam integrados no Estado os grupos económicos e profissionais».
Resposta: Aconselhamos ao sr. Miquelano a leitura do artigo «Política – Tirania», inserto na «Revolução dos Trabalhadores» de sábado. Além disso ainda lhe vamos dizer mais alguma coisa, muito chãmente, para o sr. Miquelano perceber.
1) «Forma» porque hão-de ser integrados no Estado os grupos económicos e profissionais: o Poder, depois da necessária propaganda dos princípios eficazes a realizar, promoverá a formação e robustecimento dos novos grupos profissionais e económicos (sindicalistas e corporações). Dará a esses grupos organizados um estatuto fundamental, definindo-lhes as respectivas atribuições, atribuições essas que terão carácter de interesse profissional, económico e social.
A função do Estado é de fiscalizar, enquadrar, disciplinar e dirigir os indivíduos e os grupos que constituem a Nação.
Virá a ser obrigatório, para todos os portugueses, o integrarem-se nos seus grupos respectivos, que têm funções concretas e que são fiscalizados e dirigidos superiormente pelo Poder. Os grupos organizados imporão deveres aos seus membros e reconhecer-lhes-ão direitos. Desta forma os mesmos grupos integrar-se-ão na organização do Estado, sendo órgãos do mesmo Estado com autoridade própria, definida pela lei.
2) Medida em que hão-de ser integrados no Estado os grupos económicos e profissionais: totalmente, o que não significa que fique atrofiada a actividade própria dos grupos e das pessoas que os compõem; não fica atrofiada mas fica disciplinada para o bem colectivo e comum.

***

O sr. Miquelano depois da pergunta a que acabámos de responder, disserta sobre o livro do dr. Rolão Preto «Para além do Comunismo». O «Para além do Comunismo» é um livro publicado antes de tomar forma o movimento nacional-sindicalista e nunca teve a pretensão de ser um evangelho – como, ninguém sabe porquê, afirma o sr. Miquelano. Nesse livro, que veio debater em Portugal problemas ainda então vagamente tocados, aprendeu alguma coisa o sr. Miquelano, mas não aprendeu tudo, e lá voltam as dúvidas, as perguntas, as considerações disparatadas, como a da direcção da economia confiada aos sindicatos.
Em primeiro lugar, essa da direcção da Economia confiada aos sindicatos, é de primeira ordem! Que noção terá o sr. Miquelano de sindicato? O sindicato é o grupo da profissão. Como pode ele dirigir a Economia que tem de ser dirigida através da organização de todos os elementos que concorrem para a Produção, pela «Cooperação» de todos?
Em segundo lugar, vemos que, o que parece fazer mais confusão ao sr. Miquelano é como diacho se conseguirá um Chefe indiscutível que chefie a Economia e que não seja eleito! É o diabo sr. Miquelano! Mas olhe que o problema não é tão complicado como lhe parece.
Esse chefe da Economia, será o Chefe do Estado, que para ser indiscutível, não necessita de ser hereditário. O Estado Nacional indicará a personalidade que deverá desempenhar a chefatura do Estado.
O sr. Miquelano divaga a seguir. Chama «bizarro chamadoiro» ao Estado Corporativo, faz uma trapalhada enorme. Pobre sr. Miquelano.
«Como é que no Novo Estado as corporações se podem opôr eficazmente, quando o houverem por bem, ao império discricionário do poder público?» pergunta, satisfeito consigo próprio, o sr. Miquelano.
Muito simplesmente, pelo direito que lhe conferir a Lei Nacional, a constituição, se o sr. Miquelano lhe preferir chamar assim. Quem lhe disse que o poder público teria poderes discricionários?
Que estenderete, sr. Miquelano, que estenderete!
Ficamos por aqui hoje, que isto já vai longo. Breve continuaremos a apreciação do artigo em «questão».

ANTÓNIO LEPIERRE TINOCO




Revolução dos Trabalhadores, n.º 3, separata n.º 290 do jornal Revolução, 17 de Fevereiro de 1933

PRINCÍPIOS DO NACIONAL-SINDICALISMO
IV
O TRABALHO – O SINDICATO

O trabalho é um Dever Nacional – Trabalho da Inteligência e da Técnica, da Propriedade, do Capital e da Mão-de-Obra. O Trabalho tem de ser organizado nos Sindicatos Profissionais pela Sindicalização obrigatória de todos os Trabalhadores.

O conceito nacional-sindicalista do trabalho, define-se na própria afirmação expressa da sua obrigatoriedade para todos os Portugueses.
Entende-se por Trabalho, toda a actividade humana dgna, não prejudicial à colectividade ou aos membros da colectividade.
Não basta, é claro, declarar platonicamente que o Trabalho é um Dever Nacional. É necessária dra expressão jurídica a este conceito justíssimo.
Essa expressão jurídica só o Estado a pode dar, impondo o Trabalho, no uso do seu poder soberano, como obrigação fundamental do homem.
A obrigatoriedade do Trabalho, será portanto regulada por normas jurídicas, cuja infracção representa um delito como qualquer outro.
A noção do Trabalho – dever é, para nós, uma ideia fundamental a introduzir e a concretizar na Orgânica Nova da Nação.
Se admitirmos a propriedade privada – nas condições expressas no VI Princípio do Nacional-Sindicalismo – admitimos, evidentemente, os seus detentores, os patrões. No entanto, ao patrão tipo capitalista, é preciso substituir o patrão tipo técnico.
Para conseguir este objectivo, impor-se-á uma educação especial formando mentalidades novas, educação que deverá ser protegida por obra legislativa adequada a essa revolução nos espíritos, acompanhando-a e reforçando-a. No dia em que todos os patrões forem também técnicos, muito se terá andado na realização total do Trabalho obrigatório.
O patrão deve ser o dirigente natural da Terra, do Escritório e da Oficina; a boa Produção está mais directamente ligada ao seu próprio interesse do que ao dos outros elementos dirigidos por ele.
Ao patrão segeuem-se hierarquicamente, no Trabalho, os técnicos, os mestres-de-obras e os operários.
Patrões, Técnicos e Operários, devem ter direitos e deveres estabelecidos pelos contractos corporativos.
Um dirigente, um patrão, como homem não é mais que os seus subordinados. É apenas superior na Hierarquia do Trabalho, indispensável à boa Produção por sua vez indispensável à Vida.
É esta equidade, esta igualdade moral que queremos, em oposição à Igualdade da trilogia liberal-democrata, que é afinal, desigualdade monstruosa transformada em Lei.
Proclamamos, pois, que, na organização social de amanhã só serão reconhecidos direitos aos Trabalhadores de qualquer ramo profissional.
Proclamamos, também, que os homens que trabalham necessitam de se organizarem nos respectivos Sindicatos Profissionais, para garantia e defesa de direitos.
O Poder terá a seu cargo a organização dos Sindicatos Nacionais de Trabalhadores, onde todos virão a ser obrigados a integrarem-se.
De início, essa coacção necessária ao bem-estar geral (de um homem dependem sempre vários seres humanos), poderá ser imposta, praticamente, pelas grantias reconhecidas só aos Sindicatos Nacionais. Depois de lentamente terem sido reconhecidas as vantagens sindicais, a obrigação de ingressar no Sindicato próprio, será juridicamente expressa.
O Sindicato deverá organizar-se na freguesia rural. Vejamos rapidamente, as suas linhas gerais, as suas funções.
Ao Sindicato competirá integrar e disciplinar todos os elementos do grupo profissional de determinada região.
Ao Sindicato competirá estudar todos os problemas de seu interesse especial, que serão coordenados na Corporação, como adiante veremos.
Ao Sindicato competirá a defesa dos interesses técnicos, sociais e económicos do grupo profissional, interesses a cordenar também na Corporação.
Ao Sindicato competira promover o esboço da organização de todas as Obras Sociais, organização que será completada pela Corporação.
O Estatuto geral das Corporações e Sindicatos e os estatutos especiais de cada Corporação e Sindicato, indicarão, em pormenor, as suas funções, de acordo com os meios de vida e possibilidades profissionais e económicas.
O Sindicato é, em resumo, a primeira pedra do Edifício Sindical e Corporativo.
Os delegados dos Sindicatos nos organismos que se lhe sobrepõem, representarão a vontade e o interesse de cada grupo e, em última análise, a vontade e o interesse da Nação.

ANTÓNIO TINOCO




Revolução, 18 de Fevereiro de 1933

[tema de capa: 1.º aniversáro do jornal]

CONFIANÇA EM NÓS!

Por uma questão de temperamento, de feitio, eu não sei escrever sobre datas comemorativas, eu não sei fazer o elogio de uma obra tão grandiosa já. Quando tento fazer esse elogio, as palavras saem-me frias, inexpressivas e sem saber porquê, deixo transparecer logo o espítito positivo que me guia nesta dura batalha incessante, incessantemente mantida por todos nós, com consciência, com fé, com alma.
Pertencendo ao grupo reduzido de rapazes que lançou a Revolução, numa hora de pessimismo e de descrença, em que nos encontrámos sozinhos a lutar sem quebra de ânimo, não posso e não quero deixar de colaborar neste número especial, comemorativo do primeiro aniversário do jornal. Não quero deixar de colaborar, mas quero limitar-me a algumas breves palavras, para dizer apenas da nossa satisfação, do nosso orgulho enorme e legítimo, por aquilo que fizemos, que foi qualquer coisa.
Não pretendo historiar hoje, nesta coluna de reduzidas dimensões, a vida da Revolução e do Movimento Nacional-Sindicalista, lançado pelo jornal, por ele divulgado eprotegido. Pretendo somente afirmar a todos que estamos e que continuaremos no nosso posto, dispostos a combater por todas as formas, todos os que estão contra nós.
Pretendo somente afirmar que no nosso orgulho encontramos e encontraremos a energia precisa para manter e aumentar o ritmo da batalha, até se chegar definitivamente ao fim, ao fim que queremos atingir acima de tudo, a Revolução Social-Económica.
Há uma palavra que nos define, que marca as nossas atitudes presentes e futuras. Essa palavra, que é um grito de guerra, que é o nome do jornal-órgão do Nacional-Sindicalismo, em só quatro sílabas enérgicas e vivas como o nosso sangue novo: REVOLUÇÃO.
Confiança pois apesar de tudo! Confiança em Nós! Confiança na nossa mocidade que não transige, que não quer transigir porque não deve transigir!

ANTÓNIO TINOCO




Revolução, 23 de Fevereiro de 1933

OS CAMISAS AZUIS

Escrevemos na quarta-feira passada duas longas colunas de prosa, explicando e ensinando muita coisa ao sr. Miquelano, àquele sr. Miquelano que quer reclame e que num semanário de província teve a triste ideia de se meter num beco sem saída, discutindo assuntos que desconhecia. A tirania do espaço obrigou-nos a suspender a lição em altura determinada; foi exactamente como se numa aula desse a hora.
Os nossos muitos afazeres nestes últimos dias, a falta de espaço no jornal, motivada pelo formidável banquete do dia 18 não nos permitiram terminar a tempo e horas, mas como temos por hábito discutir desassombradamente, cá estamos hoje outra vez a maçar o pio leitor. Que o pio leitor nos perdoe; temos de acabar a nossa lição.
Respondendo sinteticamente ao sr. Miquelano, dir-lhe-emos apenas:
1) Onde é que o sr. descobriu que «se afasta sistematicamente do Nacional-Sindicalismo a ideia colaboracionista»? Já no nosso último artigo lhe dissémos e repetimos-lho: o sr. sabe o que quer dizer colaboracionismo? Não é isso que queremos? Colaboracionismo é cooperação. Não será a cooperação o que temos preconizado na Revolução? O que nós não navegamos é nas águas de um colaboracionismo teórico e platónico, que ninguém sabe como e quando se fará.
2) Onde é que o sr. Miquelano descobriu que o Estado Corporativo é «inconciliável com a nova constituição», que não queremos apreciar agora aqui?
3) Onde é que o senhor descobriu que o Estado Corporativo é «radicalmente anti-nacionalista e avesso ao verdadeiro sentido do tradicionalismo económico»?
Responda, sr. Miquelano. Puxe pela bola, congemine e diga ainda mais asneiras, que nós já estamos à espera delas.
No seu primeiro artigo, o sr. Miquelano perguntava como é que o Nacional-Sindicalismo resolverá o que o jornalista provinciano chama «a questão operária».
Respondemos concretamente, ensinando, ensinando sempre o ignorante do sr. Miquelano. O sr. Miquelano, no seu segundo artigo transcreve a nossa resposta, fica sem fala, chama-nos «loquaz sociólogo» e diz que sendo aquilo o que nós queremos, que não percebe «a necessidade de um movimento independente, a justificação da nova escola». Não percebe o sr. Miquelano mas percebemos nós e todos aqueles que raciocinam bem e vêem com olhos de ver.
Não é nestas colunas que podemos dar ao sr. Miquelano mais explicações ou lhe podemos dizer se aquilo que queremos se pode ou não realizar, dentro disto ou daquilo. Entendidos.
Passando adiante e respondendo sempre, ensinando com paciência sempre cristã, dizemos ao sr. Miquelano que nem tudo o que dizemos está na «Rerun Novarun de Leão XIII» e no «Quadragéssimo Anno de Pio XI», apesar de não estar em desacordo com esses dois documentos.
Como esclarecimento quero declarar ao pobre do sr. Miquelano qualquer, que li e possuo as encíclicas citadas. Julgará o sr. Miquelano que aqui na «Revolução», pensamos e esgrimimos com os pés, como parece ser sua predilecção? Também li a representação dos operários católicos, a que o sr. Miquelano alude e quero dizer, ensinar ao mesmo senhor, que as reclamações feitas não pedem senão remendos e o Estado Novo não se há-de fazer de remendos. A propósito direi ainda ao sr. Miquelano, que veja lá se arranja processos mais originais de pretender gozar o parceiro. Percebeu?
Vamos finalmente examinar a última parte do artigo miquelaniano, parte essa referente ao conceito de democracia. A argumentação do meu primeiro artigo neste ponto não mereceu ao sr. Miquelano senão um sorriso. Pois sr. Miquelano, a sua, em resposta, nem isso me merece; merece-me só o ter uma pena infinita do seu pobre espírito que anda às aranhas.
As palavras, sr. Miquelano, têm uma significação exacta e servem para exprimir conceitos, ideias. Democracia, significa o governo do povo pelo povo. Isto é que é português. A palavra povo, empregada com expressão política, exprime por sua vez um conceito inorgânico, individualista.
Sendo assim, o governo do povo pelo povo, só pode ser inorgânico e portanto a democracia, sistema político que concretiza este conceito, é por definição inorgânica.
Onde é que o senhor descobriu que nos tempos medievos e mesmo durante parte dos tempos modernos, vigorou a democracia? O sr. Miquelano saberá o que está a dizer? Nesses empos, de que o sr. Miquelano deve conhecer menos coisas que eu, vigorou um sistema orgânico, que nunca se chamou democracia e que actualizado, completado com o que a vida moderna ensina e exige, se chama nacionalismo. É só isto, sr. Miquelano. É muito simples, mas era-lhe desconhecido.
Aprenda, que eu não lhe levo nada pela lição.
O que fica dito, responde a todas as imbecilidades que o sr. diz mais.
Quanto à nova constituição, repetimos-lhe que não queremos falar nela; escusa de insistir.
E ponto final. O sr. Miquelano não se torne a meter com gente que sabe mais que o sr., para não fazer mais figuras tristes.
Se o sr. Miquelado pretender responder a estas palavras escritas à pressa e por descargo de consciência, agradecia-lhe a fineza de me enviar novamente um exemplar da folha em que a sua prosa vier estampada. E fiquemos amigos. Dei-lhe uma sova porque tive de lha dar. O Miquelano amigo, foi o culpado de ter ficado ferido.
«Quem te manda a ti sapateiro tocar rabecão?»

ANTÓNIO LEPIERRE TINOCO

P. S. – Agradecemos ao dr. Herculano Rebordão a sua carta dirigida ao «O 28 de Maio», publicada no número de 11 de Fevereiro daquele jornal. A. T.




Revolução dos Trabalhadores, n.º 4, separata n.º 297 do jornal Revolução, 25 de Fevereiro de 1933

O NACIONAL-SINDICALISMO E ROLÃO PRETO

Na grande reunião do dia 18, no Palácio das Exposições, do Parque Eduardo VII, o Nacional-Sindicalismo foi delirantemente aclamado. Nessa grande reunião, mais se firmou a posição de CHEFE DO MOVIMENTO que por direito de qualidade e de conquista cabe a ROLÃO PRETO.
ROLÃO PRETO, frenética e longamente ovacionado por todos aqueles que conduz ao combate, é o CHEFE inconstestável do Nacional-Sindicalista. Afirmá-lo publicamente, é apenas prestar justiça à sua inteligência sempre aberta a concepções novas e a conceitos audazes, ao seu espírito renovador e criador e às suas enérgicas e admiráveis qualidades de conductor de homens.
O NACIONAL-SINDICALISMO é o Grande Movimento Nacional e Revolucionário dos Trabalhadores Portugueses, tão fundamentalmente anti-burguês, anti-capitalista e anti-comunista como sindicalista e corporativista.
A personalidade forte de Rolão Preto quase que se confunde, de certo modo, com o Movimento Nacional-Sindicalista. Por isso a Revolução dos Trabalhadores, em nome de todos os Trabalhadores Nacionais-Sindicalistas, saúda Rolão Preto, ROMANAMENTE!

ANTÓNIO TINOCO




Revolução dos Trabalhadores, n.º 5, separata n.º 302 do jornal Revolução, 10 de Março de 1933

PRINCÍPIOS DO NACIONAL-SINDICALISMO
V
A PRODUÇÃO – A CORPORAÇÃO

Tudo deve ser Produção. A Produção tem de ser o conjunto orgânico de todos os elementos que para ele concorrem. A Produção tem de ser organizada pelas Corporações.

Definido e desenvolvido o conceito nacional-sindicalista do Trabalho, esboçadas as linhas gerais do Sindicato moldado segundo a Doutrina do Nacional-Sindicaismo – procuremos expor a doutrina da Produção e da sua organização.
O mundo burguês capitalista distingue e admite, no meio social, duas categorias de homens: os produtores e os não produtores; logicamente divide, por assim dizer, a Vida em produtiva e não produtiva.
O mais grave e o maior defeito, é que aos não produtores são reconhecidos, prática e mesmo teoricamente, poderes muito mais latos que aos produtores. Existe assim uma, pelo menos, submissão absoluta dos segundos aos primeiros. É a Vida não produtiva senhora e dona da Vida produtiva.
Tanto a estes conceitos como a estes factos injustíssimos, há que opor e em guerra aberta com eles, conceitos humanos de Justiça Social.
Vimos já que na organização social de amanhã que preconizamos, só serão admitidos os homens trabalhadores, os produtores, e que só a esses serão reconhecidos direitos. Afirmamos ainda, que consideramos Produção toda a actividade humana que gera qualquer coisa de útil, considerando portanto produtores todos os que produzem, desde o patrão moderno, ao técnico e ao operário, no sentido mais lato destes três termos.
Tudo deve ser Produção. Todos devem ser produtores.
A escola liberal ou capitalista afirmou: a Produção é o Capital. O marxismo afirmou: a Produção é a Mão-de-Obra. Nós afirmamos: a Produção tem de ser o conjunto orgânico de todos os elementos que para ela concorrem. Será assim no dia em que estes elementos forem devidamente organizados e definidas as suas atribuições no Trabalho.
Provada a falência do capital senhor absoluto, provada a falência do capital exclusivamente colectivo – erradas são as afirmações capitalista e marxista. O Capital privado, regulamentado, é necessário à Produção, cmo necessária é a Mão-de-Obra, coordenados estes dois elementos pela Técnica.
Fica definido o conceito novo da Produção e da sua orgânica. A Produção para ser equilibrada, para ser criadora das boas condições de vida precisa de estar disciplinada e organizada. Essa organização far-se-á nas Corporações e disciplinar-se-á pelas normas corporativas.
A Corporação propriamente dita é o organismo directivo de um ramo de Produção, constituídos pelos delegados dos Sindicatos de patrões, técnicos e operários desse mesmo ramo.
Às Corporações meramente económicas, juntam-se as chamadas Corporações morais, com organização adequada ao seu carácter, obedecendo no entanto às linhas gerais corporativas.
É ao Poder que competirá a organização corporativa, depois de ter montado a máquina sindical.
A Corporação deverá organizar-se ao lado dos respectivos Sindicatos que são a sua base.
Se ao Sindicato competirá integrar e disciplinar todos os elementos do grupo profissional de determinada região – à Corporação competirá integrar e disciplinar todos os grupos profissionais da mesma determinada região.
À Corporação competirá estudar, em conjunto, todos os problemas de interesse geral do grupo produtivo, competirá a defesa dos interesses técnicos, sociais e económicos desse mesmo grupo.
À Corporação competirá ordenar a actividade da Produção, protegendo-a, ampliando-a ou diminuindo-a, em função do interesse da colectividade.
À Corporação competirá uma peefeita organização de todas as Obras Sociais, tendente à tranquilidade, bem-estar e futuro dos membros que se acolhem à sua bandeira.
Como se vê, a Corporação é a cúpula dos Sindicatos, completando a sua função, harmonizando-os, estabelecendo enfim a verdadeira Justiça Social, concorrendo eficazmente para o Equilíbrio da Vida.
É através dos Sindicatos, das Corporações, das Federações Corporativas (união de Corporações de interesses mais intimamente ligados), do Conselho da Economia Nacional (assembleia técnica de representação social e económica), que será dada unidade à Economia.
Essa unidade é imprescindível ao bem-estar individual comum, porque fornece as condições de Harmonia Social entre os homens e os grupos.
O Sindicato e a Corporação são grupos interdependentes entre si. Ao Sindicato competirá, propriamente, a organização social. À Corporação, a organização económica. Ao Edifício Sindical e Corporativo, uma perfeita organização social e económica.

ANTÓNIO TINOCO




Revolução, 13 de Março de 1933

NACIONAL-SINDICALISMO
ISTO HÁ-DE IR POR DEUS!
ISTO HÁ-DE IR POR NÓS!

Nós somos a Revolução Nacional dos trabalhadores em marcha.Nós somos os Homens de amanhã.
Nós somos os obreiros do Estado Sindical e Corporativo.
Seremos desapaixonados no raciocínio, apresentamos uma Doutrina moderna, justa e cheia de equilíbrio – no que a palavra equilíbrio tem de humano e racional. Tendo conseguido dinamizar a Ideia, dar-lhe uma mística revolucionária, criar-lhe as primeiras condições de realização organizando os trabalhadores que ao seu serviço se colocam – Nós somos bem a Revolução Nacional dos Trabalhadores em marcha.
Homens novos, homens de vontade firme e de querer resoluto, despidos de ideias preconcebidas, com uma formação mental e intelectual contemporânea e métodos adequados a essa formação – Nós somos os Homens de amanhã, os Homens da Realização.
Perfeitamente integrados no pensamento sindical e corporativo – Nós somos os obreiros do Estado Sindical e Corporativo, do Estado dos Trabalhadores, que sabemos como há-de ser erguido desde os alicerces à cúpula.
De que vale pois à burguesia, pretender cercar-nos de silêncio, de que vale a alguns espíritos bem pensantes e repletos do Bom Senso fingir indiferença que afinal só procura esconder despeito.
Realizámos em doze meses uma Obra grandiosa, sobretudo se atentarmos nas condições dificilíssimas em que a desenvolvemos. Afirmar isto, gritar isto, irrita a vaidade dos ineptos; por outro lado esta afirmação repetida e constante, este grito orgulhoso mil vezes lançado, é forte incitamento para aqueles que lutam, «cumprem» e sabem trilhar seguros o caminho revolucionário, desprezando as transigências dos acomodatícios.
Através da «Revolução» temos feito a nossa Obra à custa de muita tenacidade, de muita persistência, com muita fé, com muito entusiasmo.
É nas colunas deste jornal pobre, órgão de trabalhadores pobres, que a Doutrina se vai esclarecendo e expondo.
É nas colunas deste jornal, que se mantém sempre viva a chama mística de quem crê e de quem quer.
É nas colunas deste jornal, que se protege o Movimento com inteligência e com dignidade.
Do artigo doutrinário ao artigo-proclamação, do artigo-directriz ao artigo político, da Organização à Propaganda, da conferência ao comício, das manifestações às paradas de forças – estamos em toda a parte cumprindo um mando imperioso da Justiça e do Tempo.
Soubemos compreender as necessidades de uma hora que é das mais belas e revoltadas vividas pela humanidade até hoje.
Visionamos e queremos um Estado onde haja Justiça e Pão para todos os que trabalham, um Estado que não seja senhor despótico mas a síntese dos organismos produtores, a síntese da Nação. Sem responsabilidades nos erros do passado e dos outros, combatendo sempre, esperamos confiadamente um triunfo que terá sido conquistado e merecido.
O exemplo vivo que, na Alemanha, nos tem dado e está dando o nacional-socialismo, convida à meditação e leva a prognósticos. Hoje é a etapa número um da vitória hitleriana; amanhã serão as outras etapas. Mas até chegar à etapa número um quantas lutas, quantos sacrifícios!
É primeiro a luta violenta contra Bruening, Bruening símbolo da política anti-nacional da democracia, obrigando-o a cair miseravelmente das cadeiras do Poder.
É depois o combate cerrado à política burguesa de Von Papen, forçando-o, enfim, a quebrar uma vaidade estulta, a procurar integrar-se no ritmo novo servindo a Revolução dos oprimidos. A Alemanha dá um grande exemplo ao mundo.
O Nacional-Sindicalismo tem consigo a Mocidade, aqueles que se batem, os caceteiros… Quem duvida da sua vitória?
Isto há-de ir por Deus!
Isto há-de ir por Nós!

ANTÓNIO LEPIERRE TINOCO




Revolução, 15 de Março de 1933

NACIONAL-SINDICALISMO
MÍSTICA

Os povos, conduzem-se pela mística arrebatadora das grandes ideias, dos grandes homens. Mística exaltada de uma ideia pelo seu conceito justíssimo, Mística em redor do homem forte e dominador, que sabe gritar a sua fé, arrastar as massas, ainda mais por si próprio que pela sua obra. Mística por pequenos nadas, religiosamente considerada herança sagrada.
Mussolini, o grande chefe, compreende isto bem e é sua preocupação de sempre, manter no povo italiano a mística de tudo o que é fascista.
Em 29 de Outubro de 1932, inaugurou o Duce a Exposição da Revolução Fascista, comemorativa do décimo aniversário da marcha sobre Roma. Até Abril de 1933, todos os italianos e estrangeiros poderão ir à Cidade Eterna admirar os símbolos de actos belos de uma nação que, se se salvou revolucionariamente, marcha revolucionariamente num presente melhor, prepara revolucionariamente um futuro ainda melhor.
Em Portugal, não se criou até hoje, de forma completa, este género de entusiasmo, de mística.
A Mística é tónico mil vezes mais forte que uma estrada consertada, uma fonte nova em Freixo de Espada à Cinta.
Criemos nós, os Nacionais-Sindicalistas, em todos os Portugueses, a Mística da Revolução Nacional dos Trabalhadores, a mística do que queremos, do que realizaremos, criemos a mística da camisa azul, a mística do Chefe, a mística de tudo o que é nacional-sindicalista.
O Nacional-Sindicalismo é um movimento contemporâneo que sabe chamar, integrar, disciplinar os homens novos desta hora de inquietação.
Os Nacionais-Sindicalistas possuem já uma mística revolucionária. Fortaleçamos sem cessar essa mística, que nisso está o segredo da Vitória.
No dia em que tivermos conseguido uma comunhão íntima entre a Razão e o Sentimento, o triunfo será fatalmente imediato. É que nada pode resistir a um movimento de almas em vibração constante e uníssona.

ANTÓNIO LEPIERRE TINOCO




Revolução dos Trabalhadores, n.º 6, separata n.º 309 do jornal Revolução, 18 de Março de 1933

PRINCÍPIOS DO NACIONAL-SINDICALISMO
VI
A PROPRIEDADE – O CAPITAL

A Propriedade privada e o Capital privado têm uma função social imprescindível como a técnica e a mão-de-obra têm a sua. Possuir é um direito natural – mas é necessário que a extensão da posse seja definida e limitada em função da sua utilidade social.

Afirmamos que a Propriedade privada e o Capital privado são uma necessidade social e económica. É essa, possivelmente, a única razão que nos força a aceitar a sua existência, a consolidar, robustecer e proteger essa existência, dentro das normas de justiça impostas pela sã moral natural, pela solidariedade que os homens como homens se devem entre si.
O Interesse é, na vida, a grande alavanca que remove dificuldades, que gera progresso. Reconhecemos que só a posse particular consegue despertar, de facto, Interesse duradouro, forte, eficaz.
A função social desempenhada pela Propriedade privada e pelo Capital privado, cifra-se nos interesses que criam, interesses basilares a uma Produção progressiva, tendendo a um aperfeiçoamento maior de métodos e processos, visando portanto, embora indirectamente, uma melhoria constante das condições de vida.
Suprimida a posse particular, as empresas agrícolas, industriais ou comerciais, seriam pertença de uma entidade vaga – a colectividade, o Estado – e é humano, natural, que o desapego resultante de quem não tem interesses directamente ligados, à boa marcha dos negócios da empresa fosse a consequência lógica de uma tal organização da Economia.
Tirar a posse ao indivíduo ou ao grupo de indivíduos para a conferir ao agregado colectivo, daria como resultado um agravamento das condições de vida. A rotina, o tempo, completariam fatalmente a anarquia, a ruína; a fome, a miséria, seriam o corolário de um sistema a que faltaria o Estímulo, ou seja a grande razão de ser da luta séria pela vida, criadora de melhor. Afinal, os que não possuem ou possuem pouco, seriam as primeiras vítimas da supressão da Propriedade privada e do Capital privado.
A posse particular é uma necessidade individual, é uma necessidade social. Aceitemo-la, mas regulamente-se essa posse e aos detentores de Propriedade e de Capital sejam apenas conferidos legítimos direitos, recompensa de concretos deveres sociais e nacionais. Os detentores da Propriedade e do Capital – que em última análise pertencem à comunidade – nada são no Trabalho senão os dirigentes naturais, por isso mesmo que o risco da Produção, que é o seu risco directo e o seu interesse próprio, os devem compelir a gerir bem.
Ninguém ousará negar a função social desempenhada pela Técnica e pela Mão-de-Obra. Pelas razões expostas, a Propriedade privada e o Capital privado desempenham função social e idêntica.
Possuir transforma-se, pois, num Direito natural, inerente à pessoa humana para quem o estímulo que a posse dá é uma noção quase instintiva.
A monstruosidade capitalista não reconhece balisas ao uso desse Direito e juridicamente o que hoje existe, na sociedade burguesa, é o abuso do Direito natural da posse. É esse abuso que combatemos combatendo o capitalismo. Por isso, proclamamos que a extensão da posse tem de ser definida e limitada em função da sua própria utilidade social, entendendo por utilidade social, o bem-estar humano colectivo, a Justiça Social, o Equilíbrio na Vida.
Dividir a Propriedade por uma acção lenta da Lei, afigura-se-nos um bem e uma necessidade à plena resolução da questão social. A Corporação, agremiando e dirigindo superiormente a Propriedade parcelada, impedirá que a Produção perca e se prejudique a colectividade com o parcelamento.
Numa coerência inflexível com os nossos conceitos modernos e justos de Trabalho, Produção, Propriedade, Capital, combatemos o espírito que preside à formação das companhias anónimas, dos cartéis e dos «trusts». Essa formação deverá ser combatida e impedida. As Grandes Corporações verão substituir as suas vantagens, dentro de um maior critério de equilíbrio e de equidade.
Fica expressa a noção que temos da Propriedade e do Capital, do seu uso e da sua acção.
Dentro destes moldes, a Propriedade e o Capital serão amanhã integrados no plano Geral e Orgânico do Estado, plnamente reconhecida a sua função que é a de servir a colectividade, a de servir a Nação.

ANTÓNIO TINOCO




Revolução, 21 de Março de 1933

CAMISAS POLÍTICAS

Novais Teixeira, aquele senhor qualquer que manda para o Diário de Notícias crónicas mais ou menos imbecis sobre a Espanha, com uma tendência desoladora para mais – lembrou-se de dissertar sobre a importância que pode vir a ter o fascismo espanhol; o Diário de Notícias publica-lhe hoje a prosa em itálico miudinho na 5.ª página.
Lemos essa prosa, habituados como estamos a ler as informações mais ou menos exactas, que aquele diário fornece, todos os dias, a este bom público de Lisboa que o compra.
Não nos interessam nada as opiniões do sr. Novais Teixeira sobre o momento político espanhol. Encontrámos, no entanto, na sua última crónica, versado o assunto das camisas políticas e é sobre esse assunto, tão conspicuamente tratado pelo sr. Novais cronista, que vamos dizer de nossa justiça.
O que se passa em Espanha, interessa-nos apenas como espectáculo de que há a tirar lições proveitosas.
Achamos, apesar deste desinteresse natural, que é engraçado o aparecimento por estas terras de Cristo de um senhor Novais a afirmar num tom categórico de ridículo extraordinário, que as notas oficiosas de Primo de Rivera «constituem uma opiosa antologia de bom humor peninsular». Mas passemos adiante.
O sr. Novais Teixeira, continuará a escrever crónicas sobre a Espanha, crónicas que a gente há-de ler e a que não há-de ligar como hoje o faz por uma questão de boa disposição especial.
Para o sr. Novais Teixeira, o aparecimento de camisas políticas em Espanha, é uma «macaquice pitoresca», unicamente porque os primeiros povos que envergaram camisas para disciplinar e militarizar as forças da revolução nacionalista, foram a Itália e a Alemanha.
O sr. Novais Teixeira anda, supomos, vestido como toda a gente. Logo pratica uma macaquice, é um macaco e para o não ser, devia arranjar uma forma original de se vestir e então andar nu.
Já vê o sr. Novais que o seu argumento é argumento de pouca valia. Leve noção terá este cronista feito à pressa da osmose politico-social, que se reflecte nestes pequenos nadas de camisas políticas, etc.?
Mas há mais. Para o sr. Novais, «as camisas como etiqueta política» obedecem só a fenómenos económicos, que o sr. Novais descobriu não se terem dado ainda em Espanha. Esta é que é uma ideia original. O sr. Novais não percebe que os fenómenos a que se refere, são o produto de um deficiente sistema social-económico, cuja falência traz consequências psíquicas que auxiliam a formação de movimentos impregandos de mística, como é o fascismo italiano, o nacional-sindicalismo [sic] alemão, o nacional-sindicalismo português, etc., etc.
Não parece que essa reacção contra a actual organização da sociedade, essa luta revolucionária para conquistar melhor, que se desenrola em todo o mundo e para a qual a Espanha está em ponto de rebuçado, venha a destempo e portanto a destempo não vêm as camisas políticas, apesar do sr. Novais lhes chamar «excentricidades».
Para o sr. Novais, os camisas «pretas, azuis, verdes ou furta-cores», como lhes chama com muito espírito, querem só salvar a civilização, que o sr. Novais decreta não estar ameaçada. Não quererão os «camisas» de todo o mundo uma violenta Revolução Social, feita adentro das fronteiras da Nação? O sr. Novais desconhece. Não admira. Isto de ser cronista do Notícias não está em oposição com a ignorância de primário.

ANTÓNIO TINOCO




Revolução, 22 de Março de 1933

PARA ALÉM DA DITADURA
«SOLUÇÕES CORPORATIVAS»
I

O engenheiro Albino Neves da Costa, camarada querido de todas as horas deste combate sem tréguas, espírito sabedor e sincero que se tem imposto pela inteligência, cultura, método, energia e dedicação – publicou, em princípios do presente ano, um livro de alto interesse para a organização sindical e corporativa em Portugal, livro precioso a que pôs um título sugestivo: «Para Além da Ditadura – Soluções Corporativas».
Lemos apaixonadamente de um só jacto o trabalho de Neves da Costa logo após o seu aparecimento. Relemo-lo agora com mais vagar. A trepidação da vida agitada a que nos obriga este sacrifício necessário de todos os dias, não permitiu, no entanto, que ao «Para Além da Ditadura» dedicássemos mais cedo palavras de justo louvor, palavras de justa crítica.
Criticar é, para nós, apreciar conscienciosamente o bom e o mau. Nesta breve crítica ao livro de Neves da Costa, vamos, pois, procurar apreciar a obra como merece ser apreciada, notando o muito de bom que ela contém, notando também algumas deficiências inevitáveis em trabalho de vulto tamanho. Que se não veja nas nossas palavras outro objectivo senão o de fazer justiça e o de contribuir, talvez, com a nossa cota parte para o edifício grandioso do Estado Sindical e Corporativo de que a obra de Neves da Costa é, sem dúvida, um dos alicerces primeiros como o seu autor é certamente um dos valores mais seguros para a realização.
O «Para Além da Ditadura» consta de um projecto do Estatuto jurídico do regime corporativo, acompanhado cada capítulo desse projecto notável de considerações adequadas que proporcionam uma lição proveitosa ou, pelo menos, uma recapitulação ordenada de ideias e observações.
Abre o livro um prefácio desassombrado onde ressaltam afirmações claras.
Segue-se um estudo da Situação mundial sob o aspecto politico-social e nesse estudo são observados, serenamente, o panorama moderno, o velho mundo que agoniza, o mundo novo que surge. Vem depois o estudo da Situação nacional influencidada pela osmose politico-social, garantindo um futuro melhor pelas grandes reservas nacionais, prejudicada essa situação nacional pelas nossas forças dissolventes, por um estado de coisas sem direcção e sem organização, pela ignorância e inacção, pela miséria da nossa vida social, pelo cancro do nosso comércio.
Tudo o que aqui fica indicado em itálico são pequenos capítulos da Situação mundial e da Situação nacional brilhantemente traçadas por Neves da Costa.
Ao escrever sobre as grandes reservas nacionais, o autor, embora perfeitamente integrado nos conceitos modernos que certas palavras exprimem, chama burguesia às classes médias. Evidentemente, questão de palavras apenas, que no entanto têm hoje o seu significado exacto, rigoroso que convém respeitar.
Apreciadas as situações nacinal e mundial, Neves da Costa entra propriamente na matéria do seu livro: Soluções a adoptar.
Há ensinamentos valiosos contidos nos capítulos Lugares comuns – Estado Árbitro, sim; Estalo [sic] Providência, não – Marcha Revolucionária, seu sentido e direcção – O nó górdio comunista – Morte ou Glória – Lições da experiência – Enunciado do problema – Super sindicalização ou corporação – Sindicalização livre ou obrigatória – Princípio Fundamental das Pressões Mútuas. São, por fim, apresentados os princípios gerais do Estatuto Corporativo que o espaço não nos permite analisar aqui hoje; fá-lo-emos proximamente.
Lê-se no capítulo Morte ou Glória: «o Nacional-Sindicalismo, pelo contrário, quer um Estado forte, fecho da abóbada cujas origens sejam a Família e a Produção organizadas». Parece-nos inexacto. As origens desse Estado forte devem ser, sim, a Família e a Profissão organizadas. A Produção é o fruto da actividade profissional, o que há a organizar na base do edifício social é primeiramente a Profissão.
Neves da Costa confunde demasiadamente o conceito de sindicalismo e o conceito de corporativismo. Ora há a notar que, embora estreitamente ligados entre si, o Sindicato e a Corporação devem ter funções independentes e deverá o Sindicato organizar precisamente a Profissão no seu aspecto social. A Corporação organizará a Produção integrando a Profissão sob o seu aspecto de rendimento económico. Só através da Profissão, a Produção organizada pode ser considerada uma das duas primeiras bases do Estado.
Da confusão demasiada de Neves da Costa se ressente todo o seu livro e se ressente o projecto do Estatuto Corporativo apresentado no seu livro. Afigura-se-nos poder resumir esta deficiência assim: Neves da Costa procura organizar da Corporação para o Sindicato. A organização, pelo contrário, deve ser feita do Sindicato para a Corporação, organizando um e outra simultaneamente.
E isto, porque é certo que, sem Sindicatos conscientes da sua função particular, profissional, é impossível organizar Corporações de acção eficaz.
Chamar Secções de Corporação aos Sindicatos, como o fez Neves da Costa, parece-nos um erro. Questão de palavras? Sim, mas palavras que indicam uma concepção, em nosso entender, menos certa.
Neste capítulo, Soluções a adoptar, é tratado como ficou enunciado acima, o problema da sindicalização livre ou obrigatória. Neves da Costa é de opinião de que deve ser livre, desempenhando o Sindicato Nacional um tal papel na vida social-económica que todos se veriam forçados à inscrição. O processo de sindicalização deve, de facto, ser esse, mas apena sno início da organização sindical e corporativa. Criado o espírito verdadeiramente associativo, a inscrição deve ser forçada por lei porque de um trabalhador dependem seres humanos que não devem ser prejudicados pela irreflexão ou espírito de indisciplina daquele a quem a vida os sujeitou.
(Continuaremos).

ANTÓNIO LEPIERRE TINOCO




Revolução, 23 de Março de 1933

NÓS.
A «CARTA ABERTA AO DIRECTOR DO DIÁRIO DA MANHû DE DUTRA FARIA
I

Dutra Faria, meu camarada e meu amigo, publicou em 20 de Fevereiro a sua Carta aberta ao Director do Diário da Manhã. Um desleixo imperdoável e injustificável faz com que só hoje me refira na «Revolução» a esse folheto interessante e saudável.
Pertence Dutra Faria ao número reduzidíssimo de rapazes que planeou, com a audácia própria dos vinte anos, a saída da «Revolução», diário académico nacionalista.
Pertence Dutra Faria ao número reduzidíssimo de rapazes que arrancou quando pouco ou nada havia.
Pertence ao número reduzidíssimo de rapazes que, perante o espanto burguês e conselheiral, se atreveu a lançar, tenazmente todos os dias, um panfleto que além de ser o grito violento da nossa mocidae irreverente, era uma afirmação consciente daquelas ideias que nos norteiam hoje ainda, segura e firmemente, no pensamento e na acção, indicando-nos o caminho a seguir nesta batalha dura. A injustiça de muitos, nunca conseguiu nem conseguirá arrefecer o nosso entusiasmo.
Sem desprimor ou menos consideração e estima por todos os que se sacrificaram e sacrificam, tanto e tão belamente, nesta trincheira – eu lembro, com saudade já, os tempos em que na Travessa André Valente, num estreito cubículo que era a redacção, Dutra Faria e eu fazíamos o jornal muitas vezes sozinhos com António Pedro que o sono o forçava a aparecer ao meio-dia!
Da convivência nesse esforço heróico em que fomos ajudados por camaradas de sempre, entre os quais cito António Sousa Rêgo, Pereira de Matos, António do Amaral Pyrrait, Barradas de Oliveira, Silvino Leitão – da boa convivência nesse esforço heróico, repito, amenizado apenas pela boa «blague» do infatigável Almeida Carvalho, ficou radicada entre nós uma amizade forte e eu tenho pelo espírito e dedicação de Dutra Faria admiração justa.
Tinha, pois, o dever de escrever sobre o seu primeiro folheto desta luta, em que queimamos a flor dos anos, algumas palavras ditadas, quanto mais não fosse, por camaradagem leal.
Mas o folheto que nos ofereceu a pena elegante de Dutra Faria, vale muito mais que a imposição dessa camaradagem. E vale, sobretudo, pela sua essência; vale, sobretudo, porque põe, insensivelmente, à luz do dia o conflito da mentalidade existente entre nós, os que temos vinte anos de idade e de ideias, e aqueles que à força querem ter quarenta e não duas vezes vinte anos.
Alguns desses homens, dos quarenta, daqueles que querem ter quarenta, procuraram e conseguiram, até certo ponto, integrar-se no Ritmo Novo das Ideias e da Acção. Não compreendem, no entanto, porque a não sentem, à nossa mística revolucionária, não compreendem a nossa vontade firme de Revolução, de Reforma completa no social e no económico, não compreendem o nosso querer audaz de Realização que se não satisfaz com paliativos e promessas só e que nos torna, portanto, constantemente inquietos, insatisfeitos.
Para alguns somos, os balilas – como nos chamou um dia o dr. Sousa Gomes, em fundo do Diário da Manhã, referindo-se à minha modesta pessoa, a que deu apenas a honra do anonimato, tendo-me circunstâncias poderosas inibido de responder na altura devida.
Somos os balilas, os caceteiros… Mas balilas que não precisam de região preparatória, balilas que não aceitam lições daqueles que pretendem reger a mentalidade nacional, por terem sido regedores de freguesia ou coisa parecida. Caceteiros… Mas caceteiros que se batem quando é preciso, que se batem sempre, em todos os campos, enquanto os ponderados se ficam.
Dutra Faria foca no seu folheto este aspecto, definindo onde estamos, onde sempre estivemos; no nosso posto, embora dentro do nosso ponto de vista, respeitando sempre pessoas que iniciaram um dia campanha contra nós e se sujeitaram portanto a respostas menos respeitosas, mais irreverentes.
De luva branca, Dutra Faria põe tudo no seu lugar, encarando também a questão de regime político, coerente e inteligentemente.
Oxalá que, para bem da Nação, para bem da Revolução Nacional, para bem da Revolução dos Trabalhadores, todos os Portugueses que pensam ou querem pensar da mesma maneira, que querem a reforma, a Revolução indispensável – se entendam, se congreguem, venham a ter os mesmos pontos de vista.
Nós estamos e estaremos onde devemos estar, sem ambições e sacrificando-nos sempre, sabendo apenas ir direitos ao fim, direitos às realizações práticas.

ANTÓNIO LEPIERRE TINOCO




Revolução dos Trabalhadores, n.º 7, separata n.º 315 do jornal Revolução, 25 de Março de 1933

PRINCÍPIOS DO NACIONAL-SINDICALISMO
VII
A ECONOMIA NACIONAL

A Economia Nacional, pública e privada, tem de ser disciplinada e orientada pelo Estado Técnico, que deverá dirigi-la e intervir sempre que essa necessidade se imponha ao bem comum ou colectivo.

Organizado o Trabalho pelo Sindicalismo, organizada a Produção pelo Corporativismo, reconhecida a Propriedade privada e o Capital privado, admitida, como veremos adiante, a Propriedade pública e o Capital público – será necessário dar unidade à Produção e ao Consumo.
A Economia – ciência que estuda as regras da Produção e do Consumo – é regida hoje pela livre concorrência, pela livre oferta e procura; as consequências de um tal sistema foram e são a superprodução e o seu cortejo de desempregados, a subordinação do Consumo à Produção e portanto a má Produção prejudicial aos consumidores, a concentração capitalista e a ruína a que levou as classes médias, classes que são a garantia do equilíbrio social.
Há, pois, que organizar a Economia dentro de outros moldes, dentro dos moldes corporativos, disciplinadores por sua própria natureza.
O Estado Técnico a erguer, será constituído pelos organismos especializados, competentes e interessados, que melhor conhecem as necessidades técnicas nacionais.
Assim, consideramos órgão do Estado Técnico, o Conselho da Economia Nacional e os organismos que lhe servem de base. É através desse Conselho e desses organismos que é preciso disciplinar a Economia e orientá-la no sentido do equilíbrio perfeito entre a Produção e o Consumo.
Julgamos mesmo que se impõe ir mais longe a fim de conseguir um equilíbrio permanente. Por esse mais longe entendemos a direcção real a imprimir ao conjunto económico e a intervenção justa nesse conjunto económico – intervenção eficaz quando protegidos, das possíveis arbitrariedades do Poder, os interesses dos produtores e dos consumidores.
Compreende-se, evidentemente, que se manifestará no jogo dos interesses particulares, a tendência absolutamente humana de cada um reparar só nos seus interesses pessoais ou de grupo, desprezando, com prejuízo manifesto dos interesses de todos, aquelas directrizes julgadas de utilidade nacional. Sendo notório este facto, nada mais natural que exista um poder independente e coordenador que dê à Economia directrizes gerais a seguir e que, em momentos especiais, intervenha directamente nela e lhe marque rumo definido.
O exercício desse poder será função do Estado Técnico, que por sua vez deve ser orientado pelo Poder Nacional, pelo «Governo» que, como o termo indica, governa superiormente, atendendo ao conjunto da vida nacional.
O Estado Técnico deve ser uma parte do mesmo todo, uma parte especializada do Estado Nacional que é a suprema emanação das forças nacionais – políticas ou administrativas, sociais, económicas, morais e espirituais.
Há que atender, na organização da Economia, às necessidades do bem comum ou do bem colectivo. Do bem comum, quando são necessidades de todos, que os homens satisfazem pondo em comum as suas faculdades. Do bem colectivo, quando são necssidades diferentes de grupo para grupo, que se satisfazem pela divisão do trabalho.
Em ordem à força imperiosa da satisfação dessas necessidades, deve ser usada a disciplina, orientação, direcção e intervenção na Economia.
Interessa-nos a nós, Portugueses, a Economia Nacional, a Economia Portuguesa. Os outros povos que organizem a sua, dentro dos mesmos moldes do nacionalismo – doutrina. Esperemos que, no futuro, pela cooperação mundial da Economia, se poderá, enfim, dar bases sólidas a um edifício económico onde todos tenham o seu lugar ao sol sobre a face da terra.

ANTÓNIO TINOCO




Revolução, 29 de Março de 1933

PARA ALÉM DA DITADURA
«SOLUÇÕES CORPORATIVAS»
II

Continuando a nossa crítica do livro do Engenheiro Neves da Costa, vamos finalmente apreciar, em largos traços, o Estatuto do regime corporativo que nele nos é apresentado, deixando de parte as explicações introdutórias por exactas quase sempre e definidas juridicamente no seu lugar próprio.
Divide-se o Estatuto em quatro partes, vinte e quatro capítulos e contém 206 artigos.
A primeira parte versa sobre a Organização das Secções ou Sindicatos Profissionais pela criação da Corporação económica.
O primeiro capítulo trata da natureza e espécie de corporações. No art. 2.º nota-se o que chamaremos o vício inicial da confusão exagerada entre Sindicato e Corporação, vício já apontado no nosso primeiro artigo.
O segundo capítulo trata da forma da Constituição da Corporação. É aplicado o princípio da formação voluntária que se reflecte no art. 12 e seguintes, a cujas disposições Neves da Costa chama Movimento inicial. Está certo que o princípio da organização sindical e corporativa seja assim estabelecido, como vimos há dias. Talvez falte, no entanto, qualquer disposição que alargue a interferência do Poder nessa organização.
O terceiro capítulo é a Orgânica Corporativa e trata das obrigações e direitos aos membros da Corporação. Nada temos a objectar.
O quarto capítulo, dedicado ao Espírito Corporativo, trata das Secções Corporativas e sua direcção. No parágrafo 4.º do art. 29 é atribuída, exclusivamente, à Secção Operária, ao Sindicato Operário, a iniciativa em matéria de salários, de asistência, de seguros sociais. Entendemos que essa iniciativa deve pertencer a todos os Sindicatos da Corporação porque, num Estado organizado, a assistência e os seguros sociais devem interessar a todos e a todos beneficiar nas horas más da vida, assegurando um futuro despreocupado aos trabalhadores de todas as categorias.
A segunda parte do Estatuto versa o aspecto da Ligação das Secções ou Sindicatos patronais, técnicos e operários na Corporação Social.
O quinto, sexto, sétimo, oitavo, nono e décimo capítulos, respectivamente sobre a Direcção Corporativa, Selecção na direcção, Bens corporativos e Funções – tratam, também respectivamente, dos conselhos corporativos – das assembleias corporativas – dos elementos componentes das assembleias corporativas, do exercício do direito de voto e da elegibilidade – dos inventários, balanço, escrita e fundos de reserva – das publicações obrigatórias – dos membros do conselho corporativo.
Objectaremos apenas, referindo-nos ao sexto capítulo, que, em nosso entender, deverão apenas realizar-se assembleias sindicais. As assembleias corporativas serão somente reuniões dos delegados sindicais. Isto vai contra o disposto no art. 37.º.
No décimo primeiro capítulo – Centro regulador – é deveras interessante, com atribuições importantes, a figura do Juiz Corporativo que Neves da Costa apresenta.
O décimo segundo, décimo terceiro, décimo quarto, décimo quinto e décimo sexto capítulos, respectivmente sobre Alargando horizontes, Defesa externa, Produção Nacional e Participação Operária, Previdência Corporativa, A Corporação e o indivíduo – tratam, respectivamente também, da especialidade das corporações federativas – das câmaras de comércio corporativo – do património corportivo e das obras sociais corporativas – dos seguros sociais – dos contratos do Trabalho. Doutrina equilibrada e justa.
A criação dos Grémios Municipais e Regionais, que vêm tratados no capítulo décimo sétimo, é útil e necessária à representação corporativa.
Chegámos enfim à terceira e quarta partes do Estatuto, versando a primeira sobre a Ligação das Corporações num organismo – o Conselho Superior de Economia Nacional – permitindo a coordenação das forças económicas, versando a segunda sobre a Representação dos interesses económicos e sociais dos trabalhadores junto do Estado.
O capítulo décimo oitavo – Reforma do Estado – trata do Conselho Superior da Economia Nacional e dos Conselhos Nacionais.
O art. 136.º, tanto como adiante o art. 181.º, foram redigidos, em parte, atendendo às condições especiais do momento e como tal estão certos. O art. 139.º está já hoje prejudicado.
Nas atribuições conferidas a cada Conselho Nacional do C.S.E. [sic] pelo art. 141.º, faltam as de intervir e dirigir superiormente a vida económica das Corporações e, através delas, a Economia Nacional.
Ao capítulo décimo nono, tratando a Justiça corporativa, dos Tribunais Corporativos, nada temos a objectar, a não ser ao contido no art. 155.º, que nos parece inútil e sem raão de ser.
O Centro Naimador de toda esta máquina é o Secretariado Geral do C.S.E.N. Os capítulos 20.º, 21.º, 22.º, 23.º e 24.º dizem respeito às suas funções, organização, secções, pessoal.
Termina no vigésimo quarto capítulo o Estatuto que deve ser acompanhado de um interessante e claro esquema corporativo.
A terminar por sua vez o livro, vem o apelo e uma direcção marcada expressa nas palavras «Para além!...» São interessantes, bem observados e escritos, em estilo vibrante, os pequenos capítulos: «Digam-me aonde hei-de carregar!...» – Duas Místicas: Nação, Anti-Nação – Máxima Degradação, Máxima Reacção – Nova Orgânica, Novos Rumos – Eeterna Missão Histórica – Clareiras da Nova Civilização.
Felicitamos viva e sinceramente Neves da Costa pelo seu óptimo e útil trabalho, asim como o sr. Gustavo Ferreira Borges pela colaboração jurídica prestada.
O acolhimento que teve o livro «Para além da Ditadura», foi a melhor recompensa a que podia aspirar Neves da Costa ao publicar o seu livro.
Não lhe regateamos da nossa parte os justos louvores. Possuir o livro que acabamos de criticar é possuir um documento de muita valia. Todos os nacionais-sindicalistas que possam devem-no adquirir, porque a ele está reservada, sem dúvida, uma influência decisiva na Sindicalização do Trabalho e Corporatização da Produção em Portugal.
A Neves da Costa um grande abraço de camaradagem e felicitações.

ANTÓNIO LEPIERRE TINOCO

P.S. – Alguém estranhou no nosso primeiro artigo de crítica ao livro «Para além da Ditadura» a seguinte frase: «A organização, pelo contrário, deve ser feita do Sindicato para a Corporação, organizando um e outra simultaneamente». É possível que a frase não seja muito correcta. Quisemos, no entanto, exprimir o seguinte: é preciso organisar primeiro sindicatos porque sem eles é impossível organizar verdadeiras corporações. Mas para que uma vez organizados, os Sindicatos não entrassem em guerra aberta, em luta de lasses, é preciso quase ao mesmo tempo – logo que exista a célula sindical – organizar a Corporação. Aqui fica a explicação da palavra «simultaneamente» que não foi, é certo, empregada com todo o rigor. A.T.




Revolução, 31 de Março de 1933

NACIONAL-SINDICALISMO
O CHEFE

Para batalhar e para vencer, é necessário que as forças que batalham e querem triunfar sejam comandadas, bem comandadas; é precisa a existência de quem comande e a existência de quem obedeça.
Comandar é a missão do Chefe. Para desempenhar cabalmente a missão da chefia, do mando, são imprescindíveis certos e determinados requisitos, certas e determinadas qualidades, virtudes, que se não adquirem na terra das vaidades.
O Chefe é aquele a quem compete a decisão suprema.
O Chefe é aquele homem inteligente que pensa, reflecte, ouve os que o acompanham, mas que, nos momentos de agir, ordena sem permitir discusão às suas ordens; é imperativo, ríspido mesmo. O Chefe é aquele que mantém sempre inalterável, através de tudo, a serenidade que lhe dita a acção.
O Chefe é aquele que é audaz, que não vacila ante as decisões arriscadas julgadas necessárias, é aquele que prepara com ciência a marcha brusca e violenta nas arremetidas disciplinadas de um avanço constante. O Chefe é aquele que dinamiza, que arrasta, que conduz as massas, que se lhes impõe. O Chefe é o primeiro na batalha que a tudo acode com decisão rápida. Um chefe que hesitasse deixaria de o ser nesse próprio momento.
O Chefe é aquele homem forte, duro, tenaz e, ao mesmo tempo, humano, sofrendo as dores dos mortais, vivendo s suas alegrias; o Chefe é o animador constante dos que o cercam, dos que o ouvem, dos que o lêem, dos que se batem sob as suas ordens; ele é aquele que electriza, que vibr e faz vibrar.
O Chefe nunca desespera, nunca desanima, nunca aparenta cansaço ou menos fé. O Chefe crê, ainda quando todos descrêem; ele agita, incute fé, esperança, sacode, porque é a alavanca que tudo pode mover, que tudo pode tentar, que tudo pode conseguir com o seu querer firme que ransmite aos que fraquejam, com o seu prestígio que soube criar.
O Chefe não transige, não se acomoda; fala claro, quer. Por isso a sua ordem aos que voluntária e disciplinadamente o reconheceram como guia, é sempre boa, não se discute; aceita-se, cumpre-se.
A personalidade do Chefe é uma bandeira, e pode ele, nas suas origens, ter sido professor primário, pintor de tabuletas ou outra coisa qualquer, não há que, depois de conquistada a sua posição indiscutível, tentar criticá-la, amesquinhá-la, diminuí-la, substituí-la por vaidades estultas. É isto sobretudo, desde que ele é a esperança firme dos que crêem e querem, a garantia segura de uma Doutrina e da sua Realização.
O Chefe têmo-lo. Confiança.

ANTÓNIO LEPIERRE TINOCO




Revolução dos Trabalhadores, n.º 8, separata n.º 321 do jornal Revolução, 1 de Abril de 1933

PRINCÍPIOS DO NACIONAL-SINDICALISMO
VIII
OS GRANDES MEIOS DA PRODUÇÃO

Os Grandes Meios da Produção têm de ser nacionalizados sempre que essa necessidade se imponha ao bem comum ou colectivo, ao equilíbrio e justiça social.

As empresas produtoras, ou sejam os Meios da Produção, podem ser maiores ou menores, pode a sua acção ser mais ou menos vasta, mais ou menos restrita. É justo que, ao cabo de esforço tenaz, uma pequena empresa se engrandeça, aumente e multiplique as suas possibilidades produtoras aumentando o capital em actividade, as receitas e os ganhos.
Não há pois que suprimir radicalmente o que vulgarmente se chama, e nós chamaremos também, os grandes meios da Produção. Mas se, em princípio, não há que os suprimir radicalmente, há que lhes dar e impôr uma orientação, organização e fins diversos da orientação, organização e fins que hoje têm.
É preciso, em primeiro lugar, distinguir entre Empresa e Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada. Se a Empresa deve ser protegida, favorecendo-se-lhe os meios de expansão e desenvolvimento – a Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada deve ser combatida até à sua supressão total dentro de um Estado que seja e queira de facto ser um Estado de Trabalhadores.
Para nós, o termo Empresa deverá significar a entidade – entidade individual ou entidade colectiva – que dirija a Produção, a dinamiza pela inovação e aperfeiçoamento constantes, arricando audazmente capital e interesses, tomando plena responsabilidade individual e colectiva no insucesso, colhendo os lucros no sucesso. A Empresa é, assim, um factor do progresso.
A Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada é uma associação de indivíduos que entram com a sua cota, deixam correr o marfim, vivem em parasitas e recebem ou não actualmente dividendo segundo o bom ou o mau resultado dos negócios; não arriscam nunca, protegidos sempre pela famosa responsabilidade limitada ao capital aplicado.
Objectarão os perspicazes que este género de sociedades tem a vantagem de uma produção maior e logicamente mais perfeita. Ora, já o dissemos, essa vantagem e outras que a sociedade anónima possa oferecer, serão substituídas pelas vantagens corporativas realizadas dentro da Corporação, que poderá agremiar e dirigir várias Empresas. Este sistema de associativismo equilibrado e fiscalizado, produzirá em mais larga escala e melhor dentro de um critério de trabalho para todos, de preocupações inerentes ao jogo dos interesses.
A existência de grandes empresas justamente organizadas é, portanto, legítima e há que contar com elas na organização do Estado.
A perfeita organização económica será, sem dúvida, aquela em que a actividade privada possa agir total e harmonicamente em todos os ramos da Economia, reservando o Estado o domínio pela fiscalização absoluta dos grandes meios da Produção: Construção Civil, Transportes, Correios e Telégrafos, Telefones, etc.
O crédito, esse deve ser exclusivamente organizado e distribuído pelo Estado e quem diz pelo Estado, diz pelos seus Bancos e pelos Bancos Corporativos. Há que desviar em proveito do Estado, e portanto da colectividade, o jogo da Bolsa, as especulações financeiras, tudo o que se prenda com a Moeda.
No campo do Crédito tudo terá de ser nacionalizado em atenção às normas do trabalho obrigatório, em atenção ainda ao bem comum ou colectivo. Nos outros campos, sempre que a actividade privada se mostre impotente para desempenhar cabalmente a sua função, deverá o Estado igualmente nacionalizar até serem criadas pela actividade privada as condições de se exercer plenamente.
Nacionalizando o Crédito, tem-se especialmente em vista o equilíbrio e a justiça social. Nacionalizando o que por força das circunstâncias tenha de ser nacionalizado, tem-se em vista o bem comum ou colectivo.
Há distinção entre Nacionalizar e Socializar, distinção que queremos frisar.
Socializa-se atendendo ao bem colectivo do momento. Nacionaliza-se atendendo ao bem colectivo do momento e do futuro, expresso esse bem na unidade da Nação.
Nacionalizaremos, pois, sem temer, tudo o que seja necessário nacionalizar para o bem-estar nacional, para o Equilíbrio da Vida, para a Justiça Social. Não é atentar contra a propriedade. É limitá-la em função da sua utilidade social, em proveito da Nação que trabalha.

ANTÓNIO TINOCO




Revolução, 4 de Abril de 1933

DA RAÇA LATINA

A nós, admiradores do movimento e da revolução que Hitler comanda, espectadores apenas do panorama germânico – o triunfo saudável do nacionalismo na Alemanha, a ascenção, manutenção e fortalecimento no Poder do nacional-socialismo, a expansão e propaganda das suas doutrinas racistas, dictam-nos palavras justas de exaltação latina como latinos que somos, queremos e nos orgulhamos de ser.
Ao desejo legítimo de imperialismo cultural de uma outra raça, nós opomos o desejo igualmente legítimo de imperialismo cultural da nossa raça. É uma guerra aberta no domínio do Espírito e da Inteligência, guerra que não acarreta os males, as dores e as misérias da guerra das armas, antes traz à humanidade o tónico forte da luta, o estímulo gerador de energias mentais sempre renovadas.
Quando vemos tão largamente apregoada pelos teóricos do racismo a superioridade da raça germânica, natural é que acorde em nós a consciência plena e vigorosa do que somos e valemos, do que é que vale a Raça Latina. Fortalecida está de antemão a nossa consciência rácica, pelo papel predominante que a Latinidade desempenhou sempre através dos tempos.
Se reconhecemos virtudes meritórias em todas as raças que povoam a terra e nela lutam por um progressivo engrandecimento colectivo, reivindicamos para a nossa raça aquelas virtudes especiais e específicas que lhe são inerentes, que a dinamizam sem cessar, que lhe dão vida e vibração criadora.
Está certo e é lógico, está dentro da boa doutrina moderna e é instintivo, que neste entrechocar brutal no mundo contemporâneo de ideias e sentimentos, de ambições e interesses, os homens congreguem esforços e se defendam adentro dos agregados naturais indicados e mesmo imperiamente impostos pela razão, pleo sentimento, pelo sangue, pelas afinidades espirituais e culturais.
A Nação aparece, na hora violenta em que vivemos, como a grande realidade de todos os tempos que é. Na comunidade nacional ou através dela, todos procuram uma defesa que se não queda na espectativa, mas, pelo contrário, toma a ofensiva.
Espírito gregário, de certo modo idêntico ao que preside à unidade da Nação, congrega esforços nacionais para defesa nacional, nesse outro agregado natural, embora espiritual apenas, que se chama a Raça. E assim, na mesma progressão, raças congregam os seus esforços e se defendem, formando todas elas um todo – a humanidade.
Nação, Raça, Humanidade, são os elementos imprescindíveis à organização da Vida com V grande. Só através das lutas que entre si travam as Nações e as Raças, das lutas que a própria Humanidade trava com a sua directriz natural, se tem conseguido, consegue e conseguirá a Ordem. E a Ordem é a Harmonia na Desordem!
Por isso, nós, latinos, aceitamos com prazer, cumprindo um destino normal, a nossa posição no mundo diante da luta de todos os dias.
A Raça Latina saberá encontrar nas suas reservas acumuladas os elementos indispensáveis a sua Revolução interior e exterior.
A Raça Latina não teme o seu destino. Ela é a primeira entre as primeiras pelo Génio, pela Chama Criadora!

ANTÓNIO LEPIERRE TINOCO




Revolução dos Trabalhadores, n.º 9, separata n.º 327 do jornal Revolução, 8 de Abril de 1933

PRINCÍPIOS DO NACIONAL-SINDICALISMO
IX
A ASSEMBLEIA NACIONAL

A Assembleia Nacional tem de ser unicamente constituída pelos representantes dos Municípios, das Províncias, por delegação das forças morais e espirituais da Nação e pelo Conselho da Economia Nacional.

A organização do Estado Nacional-Sindicalista tem de assentar numa base realmente representativa, verdadeiramente popular.
Dignificada, protegida, fortalecida a família e estabelecida a descentralização administrativa; imposta a obrigatoriedade do Trabalho; respeitado e regulamentado o uso da Propriedade e do Capital; organizado o Trabalho e a Produção, respectivamente nos Sindicatos e nas Corporações; dirigida a Economia; nacionalizado o Crédito e o que mais se impuser nacionalizar; disciplinadas as forças morais e espirituais da Nacionalidade – há que dar representação legítima e electiva à Nação Organizada.
A Assembleia Nacional é o organismo, é o órgão da Nação, a quem cabe essa representação. E por isso, é preciso cuidar seriamente da sua formação, para que ela seja, de facto, a expressão do pensar e do sentir nacional, a síntese, por assim dizer, da própria Nação. Ora não é pela representação inorgânica dos indivíduos, seja a que pretexto for, que se conseguirá uma Assembleia desempenhando cabalmente a sua função, uma Assembleia, representação insofismável da actividade nacional.
A vida parlamentar é ainda muito recente no nosso país para que os espíritos desapaixonados não reconheçam uma burla autêntica na representação inorgânica dos indivíduos, em que o desprezo mais completo dos interesses a defender é a norma de conduta geral, perdendo-se energias em estéreis lutas politiqueiras. E mesmo que o esquecimento pesasse já sobre o que foi o Parlamento em Portugal, o espectáculo grotesco que nos oferecem os países parlamentares, seria o suficiente para nos indicar rumo diverso.
A representação deve ser uma coisa séria, o organismo que a encarna um organismo sério, com funções sérias. Fazer uma palhaçada dessa representação, não está certo. O caminho é muito outro: é preciso que a Assembleia representativa esteja, mercê da su organização, à altura das suas responsabilidades, à altura do papel que lhe compete desempenhar.
A Assembleia Nacional tem, especialmente, duas funções principais: a de orientação política e a de protecção dos interesses, de toda a espécie, que representa. Nesta ordem de ideias, afigura-se-nos que a Assembleia Nacional a funcionar, deve ser formada pela câmara política e pela câmara corporativa. A primeira, constituída pelos representantes dos Municípios, das Províncias e das forças morais e espirituais da Nação. A segunda, pelo Conselho da Economia Nacional, ou seja, pelo organismo que é a última expressão da organização sindical e corporativa.
A representação, tanto da primeira Câmara como da segunda, deve ser fundamentalmente orgânica.
Partindo deste princípio, expliquemos, para clareza da nossa exposição, como deverá ser formada a câmara política: eleitas as Juntas de Freguesia, estas elegem as Juntas Municipais e estas, por sua vez, as Juntas Provinciais. É um delegado de cada Junta Municipal, ou várias confederadas, juntamente com os delegados de todas as Províncias, que devem vir à Assembleia Nacional representar o querer dos povos. A estes delegados, há a juntar delegações das várias forças morais e espirituais, como as cademias, as universidades, etc. Esta câmara política deliberará, automaticamnete, sobe a orientação geral do Poder, sobre as linhas gerais das leis que directamente dizem respeito à vida política (empreguemos este termo) da Nação.
Vejamos, agora, a câmara propriamente corporativa: os Sindicatos enviam os seus delegados à sua Corporação; Corporações de interesses mais intimamente ligadas, enviam os seus delegados às Corporações federativas; as Corporações federativas de interesses, igualmente, mais estreitamente ligadas, enviam, também, os seus delegados ao Conselho da Economia Nacional; o Conselho da Economia Nacional forma a câmara corporativa propriamente dita. Note-se que em todas estas delegações, o patronato, a técnica e o operariado devem ter sempre o seu representante profissional. Esta câmara corporativa deliberará sobre as linhas gerais de legislação, representando directamente aos interesses que representa.
A engrenagem parece-nos dever ser esta. Se se quiser chamar à Assembleia Nacional, Assembleia Corporativa, bem está. O que é preciso distinguir sempre é duas câmaras distintas, com funções distintas, embora completando-se.
É esta Assembleia Nacional que queremos. Não cabe aos limites deste escrito entrar em minúcias. Os traços gerais aí ficam. Ninguém de boa fé deixará de reconhecer a razão que nos assiste.

ANTÓNIO TINOCO




Revolução dos Trabalhadores, n.º 10, separata n.º 332 do jornal Revolução, 15 de Abril de 1933

PRINCÍPIOS DO NACIONAL-SINDICALISMO
X
O ESTADO DOS TRABALHADORES — REFORMAS, SEGUROS, ASSISTÊNCIA

O Estado tem de confundir-se com a Nação. O Estado Nacional-Sindicalista será um Estado de Trabalhadores e só de Trabalhadores. O Poder tem de ser a emanação suprema desse Estado. O Estado Nacional-Sindicalista garantirá, a todos os Portugueses que trabalham, as justas Reformas, Seguros e Assistências Sociais, através dos Sindicatos e das Corporações, sempre que as condições de vida o exijam.

O Estado é a cabeça da organização social-económica nacional; o Estado é a expressão política da Nação.
O Estado Nacional-Sindicalista será, pela sua orgânica e formação, a síntese perfeita da Nação. Por ser a sua síntese perfeita, confundir-se-á desta forma com ela e será ainda a sua verdadeira expressão política.
Não mais o Estado, pessoa independente e omnipotente, imperando sobre outra pessoa, a Nação desorganizada ou pretensamente organizada – [ilegível] Estado, sendo pelas suas delegações e representações, o próprio Estado.
O Estado Nacional-Sindicalista será um Estado de Trabalhadores e só de Trabalhadores, onde os ociosos não terão cabimento social nem direitos. E isto porque só os Trabalhadores integrados nos seus grupos profissionais terão interferência na marcha da coisa pública. Estado Nacional-Sindicalista será, pois, um Estado de Trabalhadores que deixará à margem, até à sua supressão natural, os que nada fazem e nada produzem.
O Poder tem de ser e será a emanação suprema desse Estado de Trabalhadores, desse Estado-síntese e expressão política da Nação.
Posto isto, não basta proclamar e realizar o Estado dos Trabalhadores. Impõe-se ainda que aos Trabalhadores sejam dadas aquelas garantias indispensáveis à sua vida digna e humana, garantias que são a recompensa justa do Trabalho. E assim, de toda a legislação nova dos contratos de trabalho, salários, etc. – há que criar a organização das reformas para a velhice, Seguros para a doença e invalidez, Assistência à Maternidade e à criança. Há que realizar Obras Sociais que a todos interessem e em que todos estejam interessados.
Este é um capítulo vastíssimo de realizações que deve ser colocado em primeiro plano. É preciso encarar o problema de frente, dar-lhe solução eficaz e não pretender remediar o que não tem remédio.
Uma organização centralizada de reformas, seguros e assistência, nunca poderá cumprir o seu objectivo e perder-se na burocracia da centralização. O processo é muito outro: É necessário [ilegível] reunem-se nas Corporações respectivas [ilegível] é essa caixa corporativa que tem a seu cargo as suas Obras Sociais.
A fiscalização dessa Obras Sociais compete ao Poder pelos seus delegados. Bem está, igualmente, que se organize também um Banco Corporativo para que maior esfera possa ser dada às Obras Sociais.
Afigura-se-nos ser este o processo da organização de reformas, seguros e Assistência para todos os Portugueses.

***

A Nação organizada, um Estado Nacional de Trabalhadores, onde cada um tenha o seu lugar e as suas garantias próprias – eis o alto objectivo que se propõe levar a cabo o Nacional-Sindicalismo. Leva-lo-á.

ANTÓNIO TINOCO




Revolução dos Trabalhadores, n.º 10, separata n.º 332 do jornal Revolução, 15 de Abril de 1933

ALGUMAS PASSAGENS DO DISCURSO DO CHEFE DR. ROLÃO PRETO EM NOGUEIRA DO CRAVO

Viemos à Beira colher alento, colher ânimo para continuar a nossa cruzada.
Consideramos de bom agoiro o acolhimento que nos dispensaram os Beirões, nesta viagem de organização N.S.
O julgamento da Beira, coração da Pátria, é para nós da maior importância.
Há quem tema que a Revolução páre, hesite, tenha reticências.
Sabei amigos, que só consideramos a Revolução como tal, se ela for totalitária.
Mais para além da Revolução, a Revolução.
Nada nos divide, nada nos separa, temos uma única bandeira: a defesa desta terra sagrada e da dignidade de todos os portugueses. O Estado Nacional-Sindicalista há-de assegurar a todos os portugueses, pão e justiça.
Aqui viemos ouvir o vosso conselho, porque a Província tem os seus direitos e esses direitos hão-de ser respeitados.
Nenhum tirano, quer seja da esquerda, quer da direita, quer do centro, pode despresá-los ou desconhecê-los. Nós não somos apenas sindicalistas, mas também regionalistas. A acção do Estado pára onde começam as liberdades regionais e corporativas.
Há quem se lembre de queimar o Terreiro do Paço. É necessário, realmente, incendiá-lo, não com o fogo material, mas com o fogo espiritual do nosso entusiasmo fervoroso.
Não temos a ambição mesquinha do poder, não pretendemos substituir uns homens por outros, pois que é toda engrenagem do Estado que precisa de ser substituída, para que possa ser um Estado Novo, «de verdade». A ele compete dirigir, defender, vigiar e proteger o trabalho nacional.
A instauração desse Estado Novo, do Estado Técnico, é a tarefa gloriosa que a mocidade nacionalista há-de realizar. Ela está pronta para o combate e com o seu sangue generoso, se for preciso, cimentará o triunfo definitivo da Nação, porque se é a geração do sacrifício é, também, a geração do resgate.
Em nome dos mortos e perante o futuro, a mocidade portuguesa toma o compromisso de não repousar nem suspender a sua marcha enquanto a Nação não estiver inteiramente libertada de todos os seus inimigos.
Portugal é eterno e encontrou em nós a projecção revolucionária da história!


ALGUMAS PASSAGENS DO DISCURSO DO CAMARADA ANTÓNIO TINOCO EM NOGUEIRA DO CRAVO

Amigos!
O concelho de Oliveira do Hospital e nele muito especialmente a linda aldeia da Beira que se chama Nogueira do Cravo, recebe hoje, com hospitalidade franca de beirões que somos, o Dr. Rolão Preto e alguns daqueles camaradas que junto dele o acompanham nesta rija batalha.
Viemos aqui, amigos, ao concelho de Oliveira do Hospital, trazer-vos a nossa fé vibrante, o nosso entusiasmo moço. Viemos dizer-vos alguma coisa do Nacional-Sindicalismo, dizer-vos qual é a sua Doutrina [ilegível] dizer-vos o que [ilegível] queremos e o que é que não queremos.
A todos queremos abraçar no mesmo abraço fraterno – nunca é demais repeti-lo. Aos monárquicos e aos republicanos, todos Portugueses, todos trabalhadores!
[ilegível] vós, de ter [ilegível] trazer até vós, essa [ilegível] chefe incomparável que é Rolão Preto. O sr. dr. Rolão vai falar-vos. Ouvi-o com atenção: ele é a garantia segura de que aos males de que sofremos será dado remédio eficaz, remédio para sempre!
A obra do liberalismo e da democracia foi e é a desorganização em tudo. Na Família, que leis iníquas enfraqueceram. No Trabalho, onde existe hoje uma universal tirania económica; enquanto houver no mundo 40 milhões de desempregados, não admitimos que muitos gastem nababescamente, num ultrage, numa troça aos que têm fome e não têm abrigo. Desorganização na Riqueza, na Economia que é um caos. Na vida dos Concelhos, atrofiada pelo caciquismo qe combatemos.
A ameaça do Comunismo é um facto, é uma realidade e não um pretexto para palavras inflamadas, para oratória barata de comício. Nós não temos medo do Comunismo. Combatemo-lo violentamente porque ele é em todos os seus aspectos, uma tirania degradante e insuportável. Eu sou tão revolucionário como os comunistas, o que encaro é a Revolução por um prisma mais humano e mais justo.
A Revolução tem de fazer-se! De cima para baixo ou de baixo para cima, pouco importa, a Revolução Nacional dos Trabalhadores há-de fazer-se violentamente porque, nesta hora, a violência é o único caminho. É preciso realizar, é preciso criar o Estado Nacional-Sindicalista. Só violentamente o conseguiremos.
Trabalhadores, para nós, são todos os que trabalham, todos os que empregam a sua actividade em qualquer coisa de útil à colectividade. Trabalhadores são os patrões que lutam dirigindo as suas empresas ou cultivando a terra. Trabalhadores são os engenheiros, os médicos, os advogados. Trabalhadores são os carpinteiros, os pedreiros, os cavadores, etc., etc., etc. Todos são Trabalhadores. É preciso fazer o Estado dos Trabalhadores, e só dos Trabalhadores. Para isso se ergue o Nacional-Sindicalismo, que é em Portugal a expressão da Revolução Nacionalista que alastra por todo o mundo.
O Nacional-Sindicalismo quer a Família respeitada e protegida, considerando-a a primeira célula social.
O Nacional-Sindicalismo quer o Trabalho dignificado e organizados nas associações profissionais, nos Sindicatos que englobem e juntem para sua defesa todos os trabalhadores da mesma profissão, garantindo auxílio à mulher e aos filhos, assistência a todos na doença, reforma a todos na velhice.
O Nacional-Sindicalismo que as Corporações ou Conselhos onde patrões e operários se entendam nos contratos de salário, etc., onde todos tenham direitos e deveres, onde não haja senhores e escravos, mas homens livres.
Rapazes! Permiti que assim vos chame a todos, porque certamente todos querem ser novos de ideias. Rapazes! É preciso que todos nos ajudem, que todos venham para a batalha connosco.
É preciso reformar, é preciso revolucionar. Contamos convosco. A Revolução dos Trabalhadores há-de fazer-se porque nós queremos que ela se faça!
Eu creio firmemente que, depois desta troca de impressões, o concelho de Oliveira do Hospital, esta terra que me viu crescer, há-de enfileirar na vanguarda à conquista da Revolução.




Revolução, 29 de Abril de 1933

REVOLUÇÃO
REVOLUÇÃO
REVOLUÇÃO

Trabalhadores:
Não permite a escassez do tempo, absorvido como estou temporariamente mas por completo em afazeres inadiáveis, que ao 1.º de Maio eu dedique hoje considerações pensadas e aquelas palavras sinceras que queria escrever para vós, ao calor do meu coração de trabalhador e de militante.
Quero no entanto vir gritar-vos, nesta data consagrada de martírio e de glória, que estou convosco, sempre e acima de tudo, na luta das ideias e na batalha das barricadas pela libertação e triunfo do Trabalho Nacional.
O Nacional-Sindicalismo não é uma fantochada, não é um movimento burguês que se confunda seja com o que for.
O Nacional-Sindicalismo é, na sua essência, um moviemnto revolucionário que se move adentro de um ritmo seguro, marcado pela sua doutrina de verdadeiro resgate.
Nós, todos os que fizémos e fazemos o Nacional-Sindicalismo, todos os que nos empenhamos neste merecido Sacrifício de tudo, Nós somos, nesta hora revolta, acima de tudo revolucionários.
Tentam enganar-vos, mentir-vos, a vós trabalhadores, os que nos insultam, porque nos erguemos a protestar contra a burla da sociedade presente e contra a tirania comunista a que eles pretendem arrastar-vos.
Desprezamos os que não têm outras armas para nos combater que não sejam a mentira e o insulto.
Dirigimo-nos, sim, a todos os homens do Trabalho, aos Trabalhadores de todas as categorias e profissões honestas, que seja sinceros, para lhes afirmar que o Nacional-Sindicalismo quer fazer no agregado natural, económico e moral da Nação, a Revolução Nacional dos Trabalhadores. Revolução que não seja apenas palhaçada nas ruas, mas que abranja todos os sectores e actividades portuguesas.
Na labareda desta revolta dos oprimidos, na chama alta desta Revolução dos Trabalhadores, na flama mística deste entusiasmo que já nada conseguirá abafar, está o penhor seguro da nossa vitória insofismável que é: Revolução, Revolução, Revolução…

ANTÓNIO TINOCO




Revolução dos Trabalhadores, n.º 11, separata n.º 355 do jornal Revolução, 13 de Maio de 1933

HOJE E SEMPRE, ACIMA DE TUDO:
VIVA A REVOLUÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES
VIVA O NACIONAL-SINDICALISMO
VIVA ROLÃO PRETO

A PARADA DE FORÇAS NACIONAIS-SINDICALISTAS NO NORTE POLÍTICA DO TRABALHO

Lançou-se em Portugal, há alguns meses apenas, um Movimento de Trabalhadores que veio concretizar e dar forma, no seu ideário e na sua acção, à ânsia revolucionária dos Portugueses deste tempo.
Nacional-Sindicalismo se chama esse Movimento. Rolão Preto se chama o Chefe. Um e outro foram delirantemente vitoriados e aclamados na formidável parada de forças nacionais-sindicalistas do norte do país, realizada no dia 7.
A nossa marcha segura tem sido, na verdade, fulminante, quase milagrosa, e dá-nos a certeza matemática de que em breve conquistaremos as condições indispensáveis à realização da justíssima Revolução Nacional dos Trabalhadores.
Fazer a Revolução Nacional dos Trabalhadores, levá-la até às suas últimas e necessárias consequências, tem sido e será o nosso único objectivo, tem sido e será o fim único de todos aqueles que conscientemente lançaram o Movimento Nacional-Sindicalista, de todos aqueles que pelo seu sacrifício lhe deram expansão, de todos aqueles que não querem nada para si e querem tudo para o Nacional-Sindicalismo.
Quando o Nacional-Sindicalismo iniciou a sua marcha revolucionária, riram muitos, predizendo com galhofa o seu fracasso. E tinham motivos para assim tomar essa atitude, os que estavam cansados de politiquices e de politiqueiros de que Portugal tem sido bom pai e os Trabalhadores escada fácil.
O Nacional-Sindicalismo propôs-se, ao contrártio, fazer Política do Trabalho! Era difícil! A inteligência superior e a grande alma de Rolão Preto fizeram o milagre. Nele colaboraram aqueles que sempre tiveram fé na vitória, aqueles que se convenceram e aos outros convenceram que haviam de vencer. De reduzido núcleo de vontades que era, olhado com superioridade imbecil pelos parvos, com bonomia pelos simpatizantes, com hostilidade pelos adversários – o Nacional-Sindicalismo é hoje a maior força e organização portuguesa.
Ao apelo feito à Província, depositárias das energias sãs da Raça; à chamada feita aos camaradas que em tempos passados se bateram bem, contra a demagogia capitalista burguesa; à voz de união lançada a todos os Trabalhadores e a todos os Revolucionários; ao grito de guerra da trincheira Revolução da «Revolução dos Trabalhadores» e de tantos semanários que se têm batido com igual galhardia e mérito – respondeu a Nação inteira. A Província veio corresponder ao esforço heróico de Lisboa e se não veio ultrapassá-lo, veio igualá-lo!
O Porto, capital do Norte, respondeu, marcou no dia 7. Rolão Preto, Chefe indiscutível por direito de qualidade e de conquista, aclamado em Lisboa na manifestação de 18 de Fevereiro, foi definitivamente consagrado no Porto. Ele é o Chefe. Saibam todos obedecer-lhe. Ele nos conduzirá à vitória, sem transigências, revolucionariamente!
A política do Nacional-Sindicalismo tem sido exclusivamente Política de Trabalho. Sê-lo-á sempre, a despeito de tudo e contra todos os que a não aceitarem. O Proletário de hoje, que o Nacional-Sindicalismo quer elevar à categoria de Trabalhador Livre, sabe bem que pode contar connosco, que somos os defensores mais intransigentes das suas reivindicações, que são as nossas.
Sempre temos estado a seu lado, sempre estaremos a seu lado, unidos no mesmo ideal de um Estado só de Trabalhadores, unidos pela Solidariedade do Trabalho.
O Proletariado Português pode contar connosco como nós contamos com ele. Consolador é ver que de Norte a Sul, de Este a Oeste, a Nação que trabalha acordou, enfim, quer bater-se, quer sacudir o jugo tirânico dos senhores, vibra de entusiasmo revolucionário. Na manifestação do Porto, o Operariado esteve activamente representado por dois militantes das lutas proletárias: Francisco Moreira e José Júlio Vieira da Cunha.
As suas palavras sentidas e vibrantes, que a «Revolução dos Trabalhadores» transcreve hoje, foram aplaudidas com delírio por todos os presentes, como expressão da forma de pensar e do estado de espírito dos nacionais-sindicalistas, mesmo daqueles que escapam à opressão do Estado-burguês-capitalista, mas que contra ele se batem pela Revolução das Ideias e dos Factos.
Como não havemos nós, trabalhadores, nós, nacionais-sindicalistas, de manifestar o nosso contentamento, a nossa satisfação, nesta hora decisiva em que já nada conseguirá impedir a marcha disciplinada mas invencível do Nacional-Sindicalismo.
Os Trabalhadores são os homens de amanhã; serão os construtores, os obreiros do Estado Sindical e Corporativo, do Estado dos Trabalhadores.
— «Trabalhadores de todas as profissões e categorias — organizai-vos!» É este o nosso grito de guerra.
Como não havemos nós de vencer se temos connosco a arraia-miúda, se nós somos a arraia-miúda!

ANTÓNIO TINOCO




Revolução dos Trabalhadores, n.º 13, separata n.º 367 do jornal Revolução, 27 de Maio de 1933

COIMBRA MARCOU!

Depois de Lisboa, o Porto; depois do Porto, Coimbra. Coimbra marcou com a parada de forças nacionais-sindicalistas do dia 21.
Orientados pelo mesmo querer firme a animados pela mesma ânsia revolucionária, se reuniram em Coimbra muitas centenas de Nacionais-Sindicalistas – Professores da Universidade, Estudantes, Trabalhadores de todas as profissões e categorias – irmanados todos eles no mesmo ideal de Doutrina e Acção.
Há que saudar, em primeiro lugar, a coragem daqueles Professores catedráticos, que vieram para a luta pondo o seu saber e orientação segura, ao ser viço da Revolução Nacional dos Trabalhadores.
Há que saudar, também, a Academia de Coimbra, o seu espírito admirável, a sua sinceridade, o seu facciosismo simpático, a sua combatividade moça.
A parada de Coimbra foi uma nova confirmação de que nada há, «seja lá o que for», que detenha a marcha ascensional do Moviemnto Nacional-Sindicalista. É que o Nacional-Sindicalismo conseguiu criar em Portugal a mística necessárias às grandes transformações, às grandes revoluções, mística essa mantida pelo entusismo comunicativo de novos e velhos, mística nunca vista neste país de cépticos e de descrentes.
Mal sonhava aquele grupo de rapazes que há pouco mais de um ano, há poucos meses ainda, atirou para a rua com um diário de formato pequeno e de alma grande, mal sonhava esse grupo de rapazes que tão alto subiria a flama do entusiasmo revolcionário dos portugueses.
A «Revolução» de quatro pequenas páginas, onde mal cabia a nossa fé, veio exprimir com audácia o pensamento conscientemente revolucionário, a vontade disciplinada e a certeza de vencer de um grupo de novos que o acaso fez, em determinada altura, porta-voz das gerações novas.
A «Revolução» de quatro pequenas páginas gritou a nossa revolta perante um estado social de miséria, perante a apatia dos que estavam bem instalados na vida ou em posições de mando, perante o mal que se avolumava e que ninguém combatia seriamente.
Para quê mentir? Batemos a princípio em terreno árido. Mas ao sorriso dos cépticos e à má vontade e combate dos maus, responderam os Trabalhadores, responderam os estudantes com aquele apoio que só sabe dar a alma dos que trabalham, a alma dos que queimam a mocidade num idealismo que não espera recompensas materiais.
Foi com o seu auxílio moral, com o auxílio moral dos Trabalhadores e dos Estudantes, que o tal grupo de rapazes foi levando a cabo – com muitas deficiências mas com muito boa vontade – a tarefa que se tinha imposto, sacrificando tudo, arriscando aos 20 anos, sem olhar atrás, futuras situações cómodas e mesmo legítimas.
Muitos outros rapazes tiveram a ambição de que vingasse e se não perdesse um esforço colectivo que era o seu também. Corresponderam – e de que maneira! – à ambição máxima dos seus camaradas de Lisboa, ambição que era uma só, que é uma só, que sempre será uma só: «servir» sem o vislumbre da mais pequena vaidade, contra todos aqueles que só sabem «servir-se»!
A «Revolução» triunfou, mercê de muito esforço, de muita dedicação.
E acrescente-se que o jornal, não é a realização de um grupo; ele é a realização de todos os que colaboraram no Esforço e na Dedicação.
Comandado por Rolão Preto, pela inteligência, energia e alma enorme de Rolão Preto, foi lançado o Nacional-Sindicalismo, Movimento estruturalmente revolucionário, Movimento contemporâneo de Doutrina nova, e de Acção Nova.
O Nacional-Sindicalismo expandiu-se e progrediu com rapidez pasmosa a despeito de todas as misérias com que pretenderam e pretendem embaraçar-nos o caminho os fantoches da finança e da política. Com esses pensámos um dia, ingenuamente, poder discutir serenamente no domínio das ideias. Enganámo-nos. Apenas lançaram e lançam mão de velhos discos gastos que nem sequer nos dizem respeito. Apenas souberam e sabem utilizar-se da calúnia, do insulto, do dichote sem graça, da insinuação torpe ou com pretensões a espírito sem o ter. Não há uma ideia, um argumento, nos ataques daqueles que nos combatem desta forma. Com toda a autoridade moral afirmamos isto, falhadas tentativas várias de polémica doutrinária, tentativas feitas, algumas delas, por quem escreve estas palavras.
Vai grande algazarra nos meios burgueses da democracia sobre o Nacional-Sindicalismo. Nos meios comunistas a algazarra não é menor. Está constituída a Frente Única anti-nacional-sindicalista para nos combater, para nos inutilizar. Tudo isto não passa de espectáculo grotesco em que uns se agarram desvairadamente a interesses criados, em que outros procuram impedir que lhes fujam as possibilidades de imperar amanhã para desgraça da Nação e dos que trabalham.
Não nos impressionam nm nos atemorizam estas manifestações agónicas. Antes rimos consolados.
Os tais que hoje se constituíram em Frente Única anti-nacional-sindicalista, nunca acreditaram que se ergueria tão rapidamente neste país, que tem sido o seu feudo, um Movimento Nacional combatendo todos os que por maneiras diversas estão contra a Nação, um Movimento Revolucionário combatendo todos os interesses ilegítimos, todas as especulações feitas com os direitos dos Trabalhadores.
Não acreditavam os senhores da hoje Frente Única anti-nacional-sindicalista, que tão rapidamente se formaria esta outra Frente Única do Trabalho.
Pois é verdade. Ergueu-se rapidamente o Nacional-Sindicalismo, formou-se rapidamente a Frente Única do Trabalho.
Depois de Lisboa, o Porto; depois do Porto, Coimbra; depois de Coimbra, Braga; depois de Braga, a Nação inteira!
Os que nos caluniam e insultam, sabem que combatemos frente a frente. Sabem até já que também sabemos bater. Nada mais temos a dizer-lhes a não ser que se não esqueçam que a vitória do Nacional-Sindicalismo é inevitável por mais palhacices que façam. Depois da Vitória… o futuro dirá.

ANTÓNIO TINOCO




Revolução dos Trabalhadores, n.º 15, separata n.º 378 do jornal Revolução, 9 de Junho de 1933

NACIONAL-SINDICALISMO
O QUE NÓS QUEREMOS

Andaram para aí há dias os jornais de certo sector burguês na tarefa irrisória de provar às gentes que ao Nacional-Sindicalismo faltava uma doutrina concreta, que o Nacional-Sindicalismo não era mais que uma multidão dinamizada por palavras demagógicas de seguro efeito. Esqueceram os jornais burgueses da democracia falida, a doutrinação intensíssima, feita nas colunas do diário nacional-sindicalista «Revolução», interrompida apenas por afazeres de toda a ordem. Não vale a pena responder a quem ataca deturpando, mentindo, insinuando, caluniando e por isso as palavras que vão seguir-se não são dirigidas a esses adversários baratos, antes pretendem ser esclarecimento breve aos incautos.
Para que se saiba, afirme-se alto e bom som que na vanguarda do pensamento revolucionário se levantaram os Nacionais-Sindicalistas contra o demo-liberalismo capitalista e burguês, resumido na imbecilidade de uma inorgânica política que é burla, resumido na brutalidade da feroz luta de profissões entre si e grupos económicos, entrechocando-se desregradamente nos seus interesses e na produção. Contra isto que é livre concorrência e livre produção desenfreadas e contra a liberdade de transformar o homem em mercadoria, que outra coisa não é a liberdade de trabalho expressa na nossa legislação burguesa, se ergueu, em Portugal, o Nacional-Sindicalismo exigindo Justiça.
Na vanguarda do pensamento revolucionário se levantaram igualmente os Nacionais-Sindicalistas contra o Comunismo que, pretendendo remediar e dar justiça ao mundo, vem atirar os homens para essa outra brutalidade que é a perca do senso moral, a escravidão ao Estado, o aniquilamento das liberdades sagradas dos homens. Contra a tirania comunista, tirania moral e material, se ergueu o Nacional-Sindicalismo proclamando a liberdade e exigindo respeito à mulher e aos filhos.
Mas que queremos afinal? – berram, sem perceber nada, os burgueses aflitos.
Na vanguarda do pensamento revolucionário nós queremos a realização de uma doutrina concreta.
Nós queremos um Estado em que não sejam párias os homens que trabalham, um Estado em que só eles tenham direitos.
Nós queremos um Estado, um Estado em que a todos os que produzem seja reconhecido o direito de propriedade, factor imprescindível de estímulo e progresso, garantia das liberdades.
Nós queremos um Estado que agremie os homens profissionalmente pelo Sindicalismo obrigatório e orgânico para a luta de todos os dias.
Nós queremos um Estado que agremie e limite pelo Corporativismo os diversos interesses das profissões e grupos económicos.
Nós queremos um Estado que não assista impotente ao desenrolar de acontecimentos, que a ganância dos homens tornam tráficos.
Nós queremos um Estado, que seja, em todas as suas engrenagens e especialmente na representação séria, que o deve assistir, a expressão real da Nação, que sintetiza e representa.
Nós queremos, ainda, um Estado, que estabeleça gradualmente, de acordo com as condições económicas de momento, o salário mínimo familiar como base de relativo bem-estar.
Nós queremos um Estado que estabeleça, desde já, na Indústria associada a participação da Técnica e da Mão-de-Obra nos lucros das Empresas, participação organizada exclusivamente na Corporação.
Nós queremos um Estado que estabeleça reformas para a velhice, abrangendo todos os Trabalhadores, reformas organizadas pelos Sindicatos e Corporações, e pagas por um Banco Corporativo.
Nós queremos um Estado que assegure seguros sociais na invalidez e doença, organizados e pagos como as reformas.
Nós queremos um Estado que preste assitência à maternidade e à criança pelas Obras Sociais dos Sindicatos e das Corporações, Obras Sociais de alcance muito mais vasto ainda do que fica exposto.
Nós queremos um Estado que resolva o problema do desemprego, tornando-o impossível, por meio de uma nova e racional organização económica nacional e dando-lhe solução eficaz sempre que, por circunstâncias internacionais, os seus efeitos se façam sentir.
Nós queremos um Estado que promova e tome sobre si o encargo da construção urgente de bairros sociais e casas operárias higiénicas e confortáveis a preços acessíveis.
Disse-o Rolão Preto: «Para além da Revolução, a Revolução». Sim, a Revolução criadora que vai aperfeiçoando sem cessar o edifício sólido do Estado dos Trabalhadores.
Proclamando violentamente os Direitos dos Trabalhadores, das classes médias, o Direito à Revolução, o Dever da Revolução. Conscientemente o fazemos, porque nos nossos conceitos estamos para além dos liberalismos e das democracias, para além dos socialismos e do comunismo, para além das formas políticas transitórias e eternamente serôdias.
O que queremos tem de ser afirmado com energia, afirmado como o deve ser em 1933 e não como se diria há 15 anos. Chegámos a uma altura da evolução social, a uma tal situação dolorosa, que não há que ficar em meias palavras, em conceitos mais ou menos vagos.

ANTÓNIO TINOCO




Revolução dos Trabalhadores, n.º 17, separata n.º 385 do jornal Revolução, (?) de Junho de 1933

PRINCÍPIOS DO N. S.

I – Portugal é eterno; a Pátria é um arealidade imposta pela Terra, pelo Clima, pela Língua, pelos Costumes, pela Raça e pela História; a Nação é uma realidade económica indispensável à vida humana, social-económica e política.
II – O Equilíbrio Social Português e a Justiça equitativa na Vida dos Portugueses, dependem exclusivamente de uma Orgânica Nacional definida na Autoridade forte independente e na Nação Organizada através dos seus grupos administrativos, sociais e económicos.
III – A Família indissolúvel, protegida e dignificada, é a primeira célula social e tem de ser a base da organização administrativa, descentralizada e fiscalizada, da Freguesia, do Município e da Província.
IV – O Trabalho é um Dever Nacional – Trabalho de Inteligência e da Técnica, da Propriedade, do Capital e da mão-de-Obra. O Trabalho tem de ser organizado nos Sindicatos Profissionais pela Sindicalização Obrigatória de todos os Trabalhadores.
V – Tudo é Produção. A Produção tem de ser o conjunto orgânico de todos os elementos que para ela concorrem. A Produção tem de ser organizada e coordenada pelo Corporativismo.
VI – A Propriedade privada e o Capital privado têm uma função social imprescindível, como a Técnica e a Mão-de-Obra têm a sua. Possuir é um Direito natural – mas é necessário que extensão da posse seja definida e limitada em função da utilidade social.
VII – A Economia Nacional pública e privada tem de ser disciplinada e orientada pelo Estado Técnico, que deve dirigi-la e intervir nela sempre que essa necessidade se imponha para o bem comum ou colectivo.
VIII – Os Grandes Meios da Produção têm de ser nacionalizados sempre que essa necessidade se imponha a bem comum ou colectivo, ao equilíbrio e justiça social.
IX – A Assembleia Nacional tem de ser unicamente constituída pelos representantes dos Municípios, das Províncias, do Conselho da Economia Nacional e por delegações das forças morais e espirituais da Nação.
X – O Estado tem de confundir-se com a Nação. O Estado Nacional-Sindicalista será um Estado de Trabalhadores e só de Trabalhadores, garantindo a todos os Portugueses que trabalham os justos Seguros Sociais, através dos Sindicatos e das Corporações, sempre que as condições de Vida o exijam.




NACIONAL-SINDICALISMO

Propaganda

Aquilo que, em primeiro lugar, se impõe moralmente a todos os que se empenharam e se empenham no Nacional-Sindicalismo e que voluntariamente lhe vêm trazer a sua adesão, simpatia e auxílio, é a divulgação, a propaganda da Doutrina em todos os meios sociais e por todos os processos.
Divulgar a Doutrina é a grande obra deste período da Propaganda revolucionária do resgate. Multipliquemos, pois, os nossos esforços para que os nossos livros, os nossos folhetos, os nossos jornais e as nossas palavras cheguem a toda a parte, por todos sejam lidos e ouvidas. Mas façamos a Propaganda com método e não anarquicamente. Criemos uma técnica de Propaganda.
É exclusivamente pela Propaganda inteligente que se criam as condições requeridas para a formação de um ambiente de simpatia, para o aperfeiçoamento da Organização disciplinada, que nada possa pulverizar mas tudo esmague, Organização que intransigentemente vá criando as condições propícias à Realização da Doutrina.
Comecemos por criar mentalidade revolucionária. Espalhemos para isso todos os nossos escritos de índole revolucionária e só por essas.

Organização

Muito está já feito no ponto de vista da Organização Nacional-Sindicalista. Urge completar, disciplinar, enquadrar devidamente novos aderentes. Que a boa vontade dos nacionais-sindicalistas e o espírito de sacrifício de soldados de uma revolução que somos, supram as deficiências, procurem remediá-las eficazmente, abandonando de vez a crítica fácil e estéril, a pretensão individualista de tudo saber fazer… em teoria.
Da parte de todos nós apenas deve existir o desejo sincero de colaborar na Organização, o espírito de disciplina e de obediência consciente sim, mas de obediência absoluta.
Trabalhemos por substituir os males existentes. No dia em que a Organização Nacional-Sindicalista for total, completa, imbuída de uma disciplina de ferro, nada deterá a marcha vingadora da Revolução.

A. T.




«REVOLUÇÃO DOS TRABALHADORES»

O Jornal

É hoje publicado mais um número da «Revolução dos Trabalhadores», folha semanal – separata do diário «Revolução» –, que foi criada para fins de larga Propaganda entre o meio trabalhador português.
Árdua tarefa tem sido a publicação de uma folha com a índole desta, dando-lhe certo interesse numa época em que, mercê de circunstâncias de toda a ordem, difícil se tornou manter o que se escreveu aqui naquele aumento crescente de perfeição nos conceitos de combatividade e vibração imprescindíveis.
Não tem, é certo, a «Revolução dos Trabalhadores» cumprido, integralmente, a sua missão, tem fraquejado, por vezes, de forma bem visível na prosa publicada, na paginação apresentada e em mil pequenos detalhes que gralhas e outras deficiências de toda a ordem têm agravado.
Feito este rápido balanço ao que se fez em números, propomo-nos, ao entrar neste mês de Julho, remediar as deficiências apontadas e dar à «Revolução dos Trabalhadores» o melhor do nosso esforço.
Apela-se, pois, para todos os Trabalhadores Portugueses de qualquer credo social e em especial para todos os nossos Camaradas a fim de que nos dêm a sua colaboração e divulguem mais ainda a «Revolução dos Trabalhadores», jornal de Trabalhadores e para todos os Trabalhadores.

Direcção

Por motivo de pequena ausência forçada do Director da «Revolução dos Trabalhadores», fica em Lisboa, com plenos poderes de direcção, o camarada Luiz Forjaz Trigueiros, que a esta folha dará, sem dúvida, todo o seu esforço inteligente e dedicação provada.

Dr. Rolão Preto

Honra-se hoje a «Revolução dos Trabalhadores» com a transcrição feita do diário «Revolução» dos artigos «Queremos!» e «Exigimos!», inertos nas nossas páginas centrais e da autoria de Rolão Preto, Chefe do Nacional-Sindicalismo e portanto orientador máximo da «Revolução dos Trabalhadores».
Ninguém melhor que o Chefe da Revolução Nacional dos Trabalhadores podia formular uma síntese tão perfeita desse querer e dessa exigência imediata, feita em nome dos Trabalhadores que comanda.
A «Revolução dos Trabalhadores» passará a transcrever ou a publicar todas as semanas um artigo do Chefe.
E vamos a isto.

O DIRECTOR DA «REVOLUÇÃO DOS TRABALHADORES»




Revolução, 4 de Julho de 1933

POLÍTICA E POLITIQUICES

Aquilo a que os senhores sensatos e as senhoras sentenciosas chamam o vício da política é mal herdado dos nossos pais, que o herdaram de nossos avós e estes foram bebê-lo à deletéria influência dos nossos bisavós.
Está enraizado nos costumes dos portugueses o chamado vício da política. As restritas dimensões territoriais da nossa metrópole auxiliam, de maneira eficaz, o interesse que tomamos pela coisa pública em todas as minudências da mesma.
Infelizmente, este interesse degenera para muitos num desporto ou numa profissão, numa negociata constante ou numa distracção. O bom e louvável interesse pela coisa pública sofre uma transformação total e passa a ser mau interesse por essa coisa pública que é forçada a servir o interesse da camarilha. Temos, então, a «politiquice», vulgo vício da política, como lhe chamam os senhores sensatos e as senhoras sentenciosas.
Ora não se confunda politiquice, vício da política, com a política como a entendem os Nacionais-Sindicalistas e que é, objectivamente, a ciência e a arte de governar os povos e, subjectivamente, a luta constante de cada um pelo bem colectivo daqueles que, cumprindo a lei natural do trabalho, merecem esse bem pelo seu esforço de homens bons.
O Nacional-Sindicalismo é, e de maneira categórica, contra todas as politiquices, revistam o carácter que revestirem, contra o vício da política. Para o Nacional-Sindicalismo, governar a Nação com o fim de lhe trazer um mínimo exigido de bem-estar e felicidade não é fazer ginástica, é missão que deve ser consciente. Se assim é e se assim o afirma, o Nacional-Sindicalismo não deixa de exigir a todos os nacionais-sindicalistas o tal interesse pela coisa pública, a tal luta constante pelo bem colectivo dos que merecem pão, justiça, tranquilidade moral e material, futuro dignamente assegurado.
Cumprindo esta exigência que lhes é imposta, os nacionais-sindicalistas não são políticos no sentido abandalhado da palavra ou no sentido que lhe dão as senhoras e os senhores ponderados. Os nacionais-sindicalistas para o serem em verdade são unicamente revolucionários, quer isso agrade ou não aos politiqueiros (e há-os em toda a parte) ou às senhoras e aos senhores acima citados.
O Nacional-Sindicalismo substitui a velha terminologia pela terminologia nova. Acompanha o ritmo contemporâneo que se não compadece com as figuras simbólicas de mandantes burlescs, botas de elástico.
Loucura rematada e irrisória é a daqueles que buscam o caminho da salvação ou do seu resgate num retrocesso à mentalidade antiga, aos regimes antigos ou aos métodos antigos, sejam eles quais forem. O passado é o passado.
Ingenuidade parva é a daqueles que julga que a evolução se queda na hora que vive e pretendem tudo erguer sobre a base movediça das coisas transitórias.
Instintivamente a humanidade e as noções são impelidas, sem cessar, para coisas novas e é nessas coisas novas que os homens do seu tempo devem buscar o caminho da salvação e do resgate que neste bendito século XX é o caminho da Revolução.
Muito há-de ver e rir quem viver!
Orientar a Revolução na «direcção única» da vida, é servir a Inteligência, colocá-la ao serviço da Acção e esta ao serviço daquela.
Contra todos os que pretendem atrofiar uma e outra, fechando-se numa caixa de fósforos donde nada vêem, o caminho a seguir é este. Todo o resto é velho, serôdio, morrerá às nossas mãos. Que nos importam as politiquices, a nós revolucionários?!
E vamos a isto.

ANTÓNIO LEPIERRE TINOCO




Revolução dos Trabalhadores, n.º 18, separata n.º 402 do jornal Revolução, (?) de (?) de 1933

NACIONAL-SINDICALISMO
A FRENTE ÚNICA DOS TRABALHADORES

Encontrar, formular e realizar um equilíbrio social justo e um possível e necessário ritmo na gestão da economia, é, na verdade, a preocupação constante, o desejo firme, o querer energético ou a exigência volenta das gerações novas de trabalhadores.
Podem divergir os soldados da Causa do Trabalho nas conclusões ideológicas, nos processos a empregar, nos fins imediatos a alcançar, mas o que é facto é que todos eles se sentem e estão, apesar de tudo, unidos na mesma aspiração, que lhes é ditada pela consciência de homens sinceros ou sofredores, por uma solidariedade humana que está certa, por um natural instinto. O que é facto é que todos, por razões de ordem vária, moral, intelectual ou sentimental, tendem para um mesmo e grandioso Fim: a construção de um mundo novo, do mundo do Trabalho.
Todos os homens desapaixonados constatam e apreendem um mal-estar existente, todos se compenetraram da falência total de um sistema até há pouco de pé que aparentou, ilusoriamente, alicerces inabaláveis durante tanto tempo. Hoje toda essa construção treme, faliu ou caminha para a falência e os sintomas dessa falência inevitável e consoladora lançam muitos numa desorientação perigosa que atinge patrões e operários, capitalistas e proletários.
Definir uma doutrina equilibrada e justa, nesta hora em que o mundo civilizado, anarquicamente, procura novas fórmulas; dar viabilidade prática a essa doutrina elaborada com serenidade; unir em torno de princípios basilares as massas que trabalham e dinamizar essas massas, incutindo-lhes mística forte e espírito de sacrifício – este é, sem dúvida, o primeiro dever social dos portugueses do presente ciclo da história.
Com o Nacional-Sindicalismo pretendeu-se e conseguiu-se formar, lançar e organizar um movimento estruturalmente revolucionário de Trabalhadores portugueses.
De nada valeram as tentativas de inutilização, levadas a efeito para desviar da sua natural directriz revolucionária um movimento que, desde o seu início, se declarou acima de tudo revolucionário nos seus conceitos e na sua própria acção, que as circunstâncias condicionam.
O Nacional-Sindicalismo tem uma finalidade social-económica e, consequentemente, política. Não sendo nem querendo ser um partido ou um movimento político, o Nacional-Sindicalismo destina-se à conquista de maior soma de bem-estar e de felicidade para todos os produtores e tem, sem dúvida, uma alta finalidade política, no que a política exprime de elevado, humano e nacional.
Os grandes problemas do mundo moderno resumem-se apenas num único e grande problema: problema de Organização.
Há que organizar socialmente os homens com equidade, respeitando, embora, a hierarquia necessária.
Há que organizar racionalmente a Economia – a Produção e o Consumo – tendo em vista o máximo de rendimento para a colectividade.
Há, consequentemente, por um lado, que criar e desenvolver sem cessar as condições de bem-estar material, desenvolvendo o fomento, aumentando a capacidade económica individual e colectiva. Por outro lado, há que criar e estabilizar uma situação monetariamente desafogada para o indivíduo e para a família.
Em redor disto gira todo o resto.
No dia em que socialmente os homens forem devidamente organizados e enquadrados por profissões nos seus sindicatos e se estabeleça uma colaboração e entendimento entre todos os trabalhadores, dentro das suas corporações, estará, em grande parte, conquistada a equidade hierárquica necessária. É uma questão de Organização.
No dia em que os esforços, hoje dispersos, forem enfeixados no sindicato e na corporação, mais largas são as possibilidades para a tarefa a empreender das Obras Sociais sérias e indispensáveis Reformas, Seguros, Assistência, Hospitais, Sanatórios, Casas, Higiene, etc., maior facilidade haverá em atingir os reais fins educativos e culturais que se impõem. É uma questão de Organização.
No dia em que a Economia for racionalizada e em que a corporação (conselho paritário representando todos os elementos da produção) limitar a concorrência, organizar colectivamente certas explorações (em substituição das sociedades anónimas), banir do seio da produção os parasitas que negoceiam dinheiro por dinheiro – nesse dia muito se terá andado no caminho do aproveitamento integral dos recursos naturais, ou produção equilibrada com o Consumo, e consequente não falta de trabalho.
É uma questão de Organização.
Há, pois, que erguer o Estado Sindical e Corporativo, Estado de Trabalhadores.
Preparemos com inteligência e habilidade a Revolução Nova, criadora da Organização Nova. Faremos adentro do Nacional-Sindicalismo, a Frente Única dos Trabalhadores Portugueses. Só ela garante aos homens do Trabalho o triunfo total das suas justíssimas reivindicações.

ANTÓNIO TINOCO